10/11/2016
Ruffato e Temer: o escritor e o golpista. Por Jari da Rocha.
“A educação como privilégio de classe”, título da crônica de Luiz Ruffato no El País, sintetiza o processo de desmonte do estado brasileiro, em pleno andamento, promovido pelo governo ilegítimo de Michel Temer.
Ruffato diz , num trecho do artigo que vale ser lido na íntegra, depois de analisar as “cotas dentro das cotas”, mostrando o quanto se resiste a ampliá-las nos cursos que a elite reivindica para si ( engenharia e medicina), que mesmo o limitado progresso que se alcançou está em risco.
As universidades públicas brasileiras
sempre foram espaço reservado para formação da nossa elite econômica,
que também o é intelectual e politicamente. O panorama mudou um pouco
com os sistemas de inclusão social – cotas para alunos oriundos de
escolas públicas (em geral pobres) e para negros, pardos e indígenas.
Mudou um pouco, repito, porque a grande massa de jovens pobres – seja de
que etnia for – ainda tem que pagar para estudar em escolas privadas,
em geral de péssima qualidade. Mas o que o governo Temer pretende com a
PEC 241 é dificultar ainda mais o acesso ao ensino superior, realizando o
desejo da nossa sociedade, que, como afirmou o ex-secretário da
Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, defende a
manutenção da pobreza para que continuem existindo cozinheiras,
faxineiras, lavadeiras – ou, em outras palavras, para que subsista um
exército de mão de obra disponível para o usufruto da casa grande.
Em outubro de 2013, durante a abertura da Feira do Livro de Frankfurt, o escritor, em seu discurso, desnudou o Brasil desde sua descoberta.
Reconheceu os avanços destacando os 42 milhões de brasileiros que haviam saído da pobreza extrema, através do Programa Bolsa Família e, também, o sistema de cotas nas universidades.
Mas não deixou passar em branco a desigualdade social, os níveis de analfabetismo, o retrato das prisões brasileiras e, por fim, as condições precárias de vida da população pobre, principalmente negros, pardos, índios e a população LGBT.
O discurso de Ruffato, que ia na contramão do discurso do, então, vice-presidente Michel Temer, foi considerado polêmico e deixou desconcertado o vice-decorativo e a ministra da Cultura, Martha Suplicy, que não aplaudiu (veja no final do vídeo)
.
Temer tentou salvar a pátria e num improviso sofrível em que se disse poeta, enalteceu, antes de mais nada a si próprio, mas também a Constituição cidadã, a democracia, o estado de direito e os avanços do governo, sem mencionar Lula ou Dilma.
Reclamar-se poeta foi uma surpresa para os escritores que estavam presentes e que o conheciam como um insípido e prosaico agente do continuísmo político.
Para Zé Miguel Wisnik, que escreveu na época, o discurso de Temer era: “uma contracenação inédita e ao vivo do desrecalque corrosivo sobre a nação com o provincianismo proverbial de um representante do poder (tendo ao fundo os protestos de Ziraldo).”
De outubro de 2013 para cá todos nós sabemos o que aconteceu.
As críticas do discurso de Luiz Ruffato, mais que um registro, um alerta do que ainda era urgente se ater e combater, torna-se, ironicamente e pelas mãos do seu sucessor na tribuna de Frankfurt, o principal projeto do governo golpista.
É como se o conteúdo da fala de Ruffato fosse usado como objetivo final para a perversa ‘construção’ da proposta de emenda constitucional do fim do mundo.
Ruffato e Temer.
Um é escritor e responde a sua própria pergunta feita no início de seu discurso em 2013: “O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo?”
O outro, que se diz poeta e só rima bajulação com ambição e traição, é apenas um golpista.
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