14/11/2016
Haverá um Brasil antes e depois das delações?
Brasil 247 - 13/11/2016
Nos próximos dias, mais de 80 colaboradores da Odebrecht entregarão às autoridades depoimentos escritos e documentos que compõem os mais de 300 anexos da maior delação premiada de todos os tempos.
Já
se sabe, por exemplo, que a delação implica o presidente Michel Temer,
que pediu R$ 10 milhões num jantar no Palácio do Jaburu, o ministro
Eliseu Padilha, que teria recebido R$ 4 milhões em dinheiro, e o
chanceler José Serra, beneficiário de um depósito de R$ 23 milhões na
Suíça.
Além
deles, serão citados centenas de parlamentares e mais de uma dezena de
governadores, especialmente os que conduziram grandes obras nos últimos
anos, como as arenas da Copa do Mundo de 2014.
Outro
acordo praticamente fechado é o da Delta, de Fernando Cavendish, que
dominou as obras públicas no Rio de Janeiro, durante o governo de Sergio
Cabral, mas também participou ativamente de grandes projetos paulistas,
como o Rodoanel.
Cavendish
já disse ter bancado farras em Paris e dado um anel de R$ 800 mil à
esposa de Cabral, personagem que poderá se transformar no símbolo da
quebra do Rio de Janeiro, estado que hoje taxa os salários dos
servidores em 30%, aumenta impostos e extingue programas sociais, como
os restaurantes populares.
Se
isso não bastasse, outras duas empreiteiras, a Andrade Gutierrez e a
Camargo Corrêa, foram convocadas a complementar suas delações, porque
haviam omitido informações nos depoimentos anteriores. E a OAS, outra
gigante do setor, também negocia seu acordo.
Consta
que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, teria dito que o
“fim do mundo” no Brasil ocorrerá em março, quando todos esses acordos
estarão maduros.
No
entanto, nunca se deve subestimar a capacidade de reação do sistema
político. Dois movimentos paralelos, a lei de repatriação de recursos no
exterior e a anistia ao caixa dois, poderão beneficiar centenas de
delatados.
Até
agora, não se sabe se a conta clandestina do PSDB na Suíça já foi
devidamente investigada. O que se sabe é que o empresário e banqueiro
Ronaldo Cezar Coelho – apontado pela Odebrecht como um dos operadores
dos R$ 23 milhões repassados pela construtora, via caixa dois, à
campanha presidencial de Serra – aderiu ao programa de repatriação de
recursos do governo.
De
acordo com a lei de repatriação, os brasileiros que admitiram manter
recursos não declarados no exterior e pagaram impostos e multas estão
anistiados de crimes como sonegação, falsificação de documentos,
falsidade ideológica e evasão de divisas.
Paralelamente,
o Congresso tenta votar, a toque de caixa, a anistia ao caixa dois. Em
resumo, essa anistia e a repatriação de recursos, que pode até
beneficiar parentes de políticos, parecem estar sendo desenhadas para
salvar figurões delatados pelas empreiteiras.
(originalmente publicado na Revista Nordeste
Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247, além de colunista das revistas Istoé e Nordeste.
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