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21/08/2017
Carnificina social
por VALDEMAR MENEZES

ATOLEIRO O Brasil está num atoleiro movediço. Generaliza-se o convencimento de que a bandeira anticorrupção foi apenas uma cortina de fumaça para encobrir uma ardilosa trama para inviabilizar os governos das forças populares e impor um outro contrário à política desenvolvimentista, nacional e inclusiva, baseada no aumento real e contínuo do salário mínimo e na ampliação das conquistas sociais, na criação de empregos e na defesa do pré-sal e expansão do mercado interno: tudo o que não interessava aos que vivem da renda dos altos juros da dívida pública e da agiotagem internacional. Se o critério fosse realmente o combate à corrupção, o governo Michel Temer não teria aguentado nem uma semana, diante dos escândalos, sem paralelos, que o envolvem. Que distância das singelas “pedaladas” de Dilma (uma operação contábil que nunca se constituiu em crime de responsabilidade). Segundo O Globo, Michel Temer deixará um rombo fiscal que chegará a meio trilhão de reais até 2020. Em contraste, Dilma, em seu primeiro mandato, fez superávits de R$ 292 bilhões; não fez mais porque a partir daí foi sabotada pelas “pautas-bomba” de Eduardo Cunha, e não pôde mais governar.
DOIS PESOS As acusações que embasaram as delações contra o alto tucanato, apesar de recheadas de cifras sobre propinas e contas bancárias na Suíça não deram em nada. Que diferença quando comparadas aos contorcionismos do sistema para tentar arranjar uma mínima prova palpável contra Lula, apesar das devassas implacáveis nos últimos anos. Na última semana, importantes figuras do mundo jurídico democrático desmontaram, no livro “Comentários a uma Sentença Anunciada: o Processo Lula” (assinados por 122 juristas), aquilo que consideraram perversões contra o Direito e a Constituição, na condenação judicial de Lula pelo juiz Sérgio Moro. O mundo jurídico internacional está abismado com a perseguição a Lula, intensificada esta semana, por alguns juízes, para impedir sua caravana ao Nordeste.
DESPUDOR Hoje, os autores do golpe do impeachment confessam, sem pudor, que o que derrubou Dilma não foram as “pedaladas”, mas, a insatisfação do mercado financeiro com o prosseguimento, pelo quarto governo consecutivo, de um modelo econômico detestado pelos financistas, rentistas e capital improdutivo em geral. Isso exige uma indagação: desde quando, no presidencialismo, é constitucional derrubar um governo apenas por se discordar de seus rumos? Não estamos no parlamentarismo. Estranhamente, o STF fechou os olhos ante essa violação brutal da Constituição. A desculpa dada não convence nem a leigos. Um dia essa história será contada em seus detalhes e aí se verá quem vendeu a alma ao diabo.
VALDEMAR MENEZES. Colunista do jornal O Povo (CE)
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