25/08/2017
Victor Fasano, Fafá e o patético caso dos artistas que apoiaram o golpe e agora renegam Temer.
Diário do Centro do Mundo - 25 de agosto de 2017
Por Kiko Nogueira
Se Ezra Pound tivesse conhecido o Brasil, jamais diria que os artistas são as antenas da raça.
Os nossos são o retrato fiel de uma derrocada moral — com as exceções de praxe, a começar por Chico Buarque.
Um ano depois de um golpe vagabundo, celebridades A, B e C resolveram se manifestar.
O motivo é a decisão de Temer de extinguir a Reserva Nacional do Cobre e seus Associados (Renca) na Amazônia, 47 mil metros quadrados localizados no Pará e no Amapá.
A lista de indignados inclui Fafá de Belém, Victor Fasano, Gretchen (!), Gisele Bündchen, Ivente Sangalo, Marcos Palmeira, Bela Gil e outros menos cotados.
“Presidente Temer, você tem noção do que está fazendo disponibilizando uma área maior do que a Noruega para ser utilizada para mineração em plena Serra do Tumucumaque?”, diz um apoplético Fasano num vídeo.
Ele, como seus colegas, não conseguem juntar uma coisa — um impeachment fraudado — a outra — o desmanche de um estado por um sujeito que não foi eleito.
Sujeito esse que chegou lá com a bênção de boa parte dessa gente.
Fafá foi a estrela de uma festa picareta no Palácio do Planalto em novembro. Cantou, para variar desafinada, o Hino Nacional numa tal cerimônia de entrega da Ordem do Mérito Cultural 2016. Faturou R$ 15 mil.
Fasano esteve com as amigas Susana Vieira, Luana Piovani e Lucinha Lins e Fagner em Curitiba puxando o saco de Sergio Moro, sem o qual nada disso seria possível.
Palmeira assinou um manifesto intitulado “Esquerda Democrática com Aécio Neves” em 2014 e, no ano passado, gravou depoimento para Deltan Dallagnol e suas 10 Medidas Contra a Corrupção, tremendo 171 que rendeu muita palestra para o procurador de bochechas rosadas.
Quem não se engajou nessa tragédia nacional, se calou, o que é a mesma coisa.
Não há causa menos, digamos, covarde do que a floresta amazônica. Quem pode ser a favor de sua destruição? Daí para o papo furado acerca de sustentabilidade, especialidade de Marina Silva, é um pulo.
O maior símbolo desse ativismo babaquara é Sting. Nos anos 80, o ex-vocalista do Police aparecia toda semana no Fantástico com um cocar, fumando um cachimbo da paz ao lado do cacique Raoni. Um dia ele se cansou, pegou seu jato e nunca mais voltou.
Não é menos ridículo o movimento em desagravo ao juiz Marcelo Bretas, que vive num cabo de guerra com Gilmar Mendes em torno da prisão e soltura de Rogério Onofre, ex-presidente do Detro, no RJ.
A geléia geral tem Caetano Veloso e a galera do Vem Pra Rua, aquele mesmo grupo que coloriu a Paulista de verde e amarelo com Janaína Paschoal no carro de som e patos na plateia.
O grande momento da turma foi o cartaz com uso errado da vírgula, separando sujeito do verbo na frase “O Rio, está com você”.
Não por acaso, estão todos alinhadíssimos com a Globo.
Como levar a sério?
Saudade do Bozo. Aquele sim nunca enganou ninguém.
Kiko Nogueira. Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
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