sábado, 12 de agosto de 2017

Nº 22.073 - " Base esfarela, Temer não governa mas diz que é 'ousado' "


12/08/2017

Base esfarela, Temer não governa mas diz que é “ousado”



Brasil 247 - 11 de Agosto de 2017


Lula Marques/Agência PT


Tereza Cruvinel

Só não vê quem não quer. A base de Temer, depois de salvá-lo da denúncia de corrupção, está se esfarelando e ele já não consegue governar, embora nesta sexta-feira tenha bravateado: “Dizem que sou corajoso. Eu digo que sou mais que corajoso. Sou ousado”. Não tendo cumprido todas as promessas feitas aos deputados antes da votação, Temer enfrenta a má vontade do baixo clero do Centrão, que já bate o pé contra a reforma previdenciária e vem empurrando a aprovação de outras matérias de alto interesse fiscal, como o Refis e a reoneração das empresas. PP, PR e PSD continuam cobrando punição aos infiéis do PSDB, PSB e PPS, partidos que têm ministros no governo mas não entregaram a maioria de seus votos.  

A reação já está escancarada, com os “centristas” dizendo coisas assim: "Decidimos não votar a reforma da Previdência. Só retomaremos o diálogo quando o governo resolver quem é base e quem é oposição" (deputado Arthur Lira (AL), líder do PP). Ou assim: “A discussão da Previdência abre a porta para sociedade ir para as ruas, e isso é tudo o que o governo tem que evitar diante de uma segunda denúncia" (deputado Marcos Montes, líder do PSD).  

E não é só o Centrão: o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia, agora vem apresentando uma inflexão crítica em seu discurso, dizendo por exemplo que não se sente “confortável” com o aumento da meta de deficit fiscal, medida que o governo deve anunciar na semana que vem. “Pelo visto o governo vai anunciar um aumento da meta, o que é muito ruim e mostra que o governo não teve condições de executar seu próprio Orçamento cortando despesas" -  disse Maia nesta sexta-feira. Na primeira denúncia ele optou pelo figurino de aliado leal e estoico mas, se vier a segunda, sua conduta pode poder.

Mas Temer não enxerga nada disso. Apesar do risco da segunda denúncia, e da retumbante derrota na questão fiscal apontada por Rodrigo Maia, ele ontem voltou a externar sua autocomplacência: “mais que corajoso, eu sou ousado”. Tão ousado que tem dez ministros sendo investigados pelo STF!

A situação dele então é a seguinte: o estado das contas públicas é desesperador, a base rejeita qualquer hipótese de aumentar impostos, não votará a reforma da previdenciária para ninar o mercado e não aceitará medidas drásticas de corte de despesas. A ingovernabilidade está chegando a galope. Em matéria de debilidade presidencial, nunca se viu um presidente recuar com tanta velocidade como Temer, na semana passada, em relação ao ensaio sobre o aumento do imposto de renda. Todos os sinais são de que a base deu-lhe o que tinha que dar, com o perdão do dia 2, mas não fará mais sacrifícios por ele, que a eleição está aí mesmo. O importante para os deputados agora é aprovar o “distritão” e o fundão partidário para financiar a campanha, e salve-se quem puder. O compromisso que firmaram com o governo, dizem muitos deles, foi em relação à primeira denúncia. Se vier uma segunda, serão outros 500 (figura de linguagem, não confundir com os 500 mil da mala de Loures).

E como vem aí a segunda denúncia, a instabilidade vai se arrastar, sangrando continuadamente o país. Foi diante deste horizonte que Fernando Henrique voltou a sugerir: “se eu fosse ele, pedia antecipação das eleições”. Mas Temer não fará isso, pela razão elementar de que perderia o foro do STF e teria que responder à denúncia de corrupção passiva em primeira instância. A Câmara decidiu apenas que ele não será investigado no exercício do mandato, não o anistiou, como deixou claro o ministro Fachin, ao suspender o processo em relação a Temer, encaminhando o caso de Loures para a primeira instância, já que ele não é mais deputado.


Temer sabe que uma segunda denúncia seria apreciada pela Câmara em condições bastantes piores do que a primeira: a base esgarçou-se e a munição esgotou-se. O estoque de emendas já foi quase todo liberado e os cofres estão vazios. Por isso a guerra contra Janot vai ser pesada. Anteontem, o senador Jorge Viana perguntou ao general Etchegoyen, ministro-chefe do GSI, se a arguição da suspeição de Janot, apresentada pela defesa de Temer ao Supremo, foi baseada em investigações da ABIN. Ele negou. Mas à boca pequena, nos meios governistas, circula o boato de que Temer tem bala na agulha contra o homem das flechas de bambu.


TEREZA CRUVINEL. Colunista do 247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País

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