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18/04/2013
"PPS é capítulo vergonhoso da política nacional"
Em artigo exclusivo para o 247, o
jornalista Breno Altman, diretor do Opera Mundi, faz a "autópsia" do
partido Mobilização Democrática, fruto da fusão entre PPS e PMN e que
tem como grande sonho a filiação de José Serra para oferecer um palanque
forte ao governador pernambucano Eduardo Campos, em São Paulo; segundo
ele, o PPS, nascido de um naco do Partido Comunista Brasileiro e
capturado por Roberto Freire, "na pia batismal já abandonou qualquer
compromisso com o socialismo" e se transformou em "linha auxiliar da
oligarquia"; detalhe: Freire, Campos e Serra tiveram encontro na
Por Breno Altman, especial para o 247
Com a criação de uma nova sigla, Mobilização Democrática
(MD), encerra-se a história do Partido Popular Socialista, capitaneado
pelo deputado Roberto Freire. A fusão com o Partido da Mobilização
Nacional, que deu cabo à agremiação, foi engendrada para viabilizar
atração de parlamentares sem quebrar formalmente regras de fidelidade
partidária, arrastando tempo de televisão e nacos do fundo público para
financiamento dos partidos.
A legenda recém-batizada tem objetivo encomendado, segundo
declarações do próprio Freire: servir de trampolim para a candidatura
presidencial de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, entre
correntes tradicionalmente vinculadas à coalizão PSDB-DEM. O plano é
conquistar deputados e senadores deste setor, além de pescar nas turvas
águas do PSD de Kassab. De quebra, o grande sonho de seus dirigentes é
filiar o tucano José Serra, a mão que balança o berço do projeto.
Esta manobra eleitoral, tão ao gosto atual da mídia
tradicional, diz muito a respeito de seus inventores. O PPS, nascido de
um naco do Partido Comunista Brasileiro (PCB), na pia batismal já
abandonou qualquer compromisso com o socialismo, apesar de carregar essa
intenção no nome. Apoiou Lula em 2002, mas rapidamente se converteu em
sócio do bloco de direita. Quando começou a namorar o PMN, houve quem
sugerisse que a criatura parida chamasse Esquerda Democrática, ideia
logo abandonada para não soar ridícula.
A turma de Roberto Freire, afinal, com poucas e honrosas
exceções, fez história de capitulação em capitulação. Os mais antigos,
em sua maioria, eram comunistas meio róseos durante a ditadura,
entocados depois da derrota de 1964. Quando os trabalhadores voltaram a
ser protagonistas da vida política, a partir dos anos 70, não vacilavam
em afirmar que aquilo era aventura.
Essa mesma patota ficou contra a greve geral do dia 21 de
julho de 1983, a primeira depois do golpe militar. Um de seus
comandantes, o falecido Hércules Correa, ex-líder sindical, chegou a
declarar que trabalharia “full-time” para impedir a empreitada, no que fracassou de forma retumbante, pois São Paulo parou.
Também ficaram contra a campanha das diretas-já. Quando
milhões começaram a se concentrar em gigantescos comícios, aderiram
andando de lado. Na primeira oportunidade, se juntaram à transição
conservadora, carimbada pela eleição da chapa Tancredo-Sarney no colégio
eleitoral forjado pelos militares.
Deram seu voto para Lula, no segundo turno de 1989. Mas aí
veio o colapso do socialismo europeu e a desintegração da União
Soviética, e foi o Deus-nos-acuda. Açodados por sobreviverem, mudaram de
lado a galope. Abandonaram o socialismo, a esquerda e a compostura.
Passaram os últimos dez anos de braços dados com os brucutus do
neoliberalismo, em selvagem oposição aos governos de Lula e Dilma.
Sequiosos por serem considerados membros dignos do clube
conservador, entregaram os dedos até em política internacional. O PPS
não pestanejou, por exemplo, em dar seu apoio, nas duas últimas eleições
presidenciais venezuelanas, ao fascistóide Henrique Capriles, além de
apoiar golpes em Honduras e no Paraguai.
Reencarnado como MD, o partido de Roberto Freire presta-se
a ser, mais uma vez, linha auxiliar da oligarquia. A autópsia do
cadáver revela, assim, um dos capítulos mais vergonhosos da recente
história brasileira.
Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel
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