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03/08/2013
Um personagem central para o esclarecimento do escândalo do metrô de SP
Adilson Primo comandou a filial da Siemens no Brasil por muitos anos.
“Ninguém morre de tédio numa empresa como essa”, disse o executivo Adilson Primo à revista IstoÉ Dinheiro em 2011. Ele falava de novas estratégias de negócios.
Primo era, na ocasião, presidente da Siemens do Brasil, uma operação que fatura cerca de 5 bilhões de reais por ano e emprega 10 000 pessoas.
Poucos meses mais tarde, sua tese seria exemplarmente comprovada com ele mesmo, depois de 34 anos na casa, em que entrou como estagiário e chegou a presidente.
Primo foi demitido por justa causa, acusado de quebrar o “código de conduta” da Siemens, uma das maiores e mais antigas empresas de engenharia do mundo.
Fundada em 1847 e baseada em Munique, a Siemens descobriu uma conta do Itaú num paraíso fiscal na qual Primo e três sócios movimentaram 6 milhões de euros entre 2003 e 2006.
Para a Siemens, Primo subtraiu aquele dinheiro da empresa.
Por sua posição, Primo é um personagem central para esclarecer o escândalo do metrô de São Paulo – a fábrica de propinas com a qual a Siemens assegurou contratos milionários, ao lado de um pequeno grupo de companhias multinacionais que se uniram num cartel.
Estes contratos foram firmados com a companhia que administra o metrô de São Paulo – uma estatal sob o controle do governo paulista.
Isto quer dizer que o escândalo alcança o PSDB, partido que ocupa o governo de São Paulo há duas décadas.
A Siemens é conhecida – e combatida em muitos países – por uma cultura sistêmica de propinas pagas a autoridades que podem garantir contratos nas localidades em que atua (virtualmente, o mundo inteiro).
Em 2008, a empresa foi objeto de uma devassa pela justiça americana e foi obrigada a pagar multa de 1,6 bilhão de dólares por corrupção e concorrência desleal.
A justiça americana pôde caçar a Siemens porque suas ações eram negociadas nos Estados Unidos.
Pagar propinas para conquistar contratos no exterior é ilegal nos Estados Unidos. “Os executivos da Siemens carregam dinheiro para propinas nas suas pastas de trabalho”, disse um dos responsáveis pela investigação movida nos Estados Unidos.
A Siemens não contestou nada do que as autoridades americanas levantaram contra ela. Prometeu mudar sua cultura e limpá-la de práticas corruptas.
Um novo presidente mundial, Peter Loscher, foi escolhido com a missão estrita de saneamento ético. “É possível ser competitivo mundialmente e ao mesmo tempo não fazer nada errado”, disse a empresa ao anunciar Loscher.
Na semana passada, Loscher foi demitido em consequência do escândalo da Siemens brasileira – mais noticiado na Alemanha do que no Brasil.
A Siemens é o caso mais notável de uma cultura corporativa peculiar. Na Alemanha, até 1999, era legalmente admitido que as empresas multinacionais pagassem propinas em suas operações no exterior.
Os subornos eram dedutíveis como despesas de negócio nas declarações de renda das companhias, e pagar uma autoridade estrangeira não era crime.
Na Siemens, subornos eram chamados de “NA”, abreviatura da expressão “nutzliche aufwendungen”, que significa “despesas úteis”.
As “despesas úteis” eram movimentadas por funcionários dedicados apenas a isso. Internamente, eram chamados de “consultores”.
Quando as autoridades americanas anunciaram a multa bilionária, em 2008, calculava-se que a Siemens empregava no mundo 2 700 “consultores” para administrar seus subornos.
As “despesas úteis”, no Brasil, foram largamente empregadas para que a Siemens ganhasse contratos no metrô de São Paulo sob gestões do PSDB.
A inapetência da mídia para cobrir o assunto chama a atenção, porque o caso da Siemens é espetacular no volume da corrupção e nos métodos envolvidos.
Pode-se imaginar o que estaria ocorrendo se, em vez do PSDB, estivesse o PT por trás do metrô de São Paulo: Adilson Primo já teria sido localizado e estaria nas primeiras páginas com declarações bombásticas, repicadas com estrondo no Jornal Nacional.
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