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19/09/2013
ELES PERDERAM
O julgamento do mensalão irá continuar, os condenados, condenados
estarão, perdidos que sempre estiveram, porque foi para isso que se
montou a imensa ilusão da AP 470: para condená-los. O inquérito sobre o
mensalão fala por si só sobre a questão. É a prova inequívoca de um
esquema de caixa dois montado pelo PT, explicitamente proibido pela
legislação eleitoral, de modo a garantir recursos para os pagamentos de
campanha, em 2002. A investigação em si já é uma condenação, e para isso
foi pensada. Só foi possível de ser viabilizada pela Polícia Federal
porque, no breve momento de republicanismo proporcionado à corporação no
governo Lula, tornou-se, então, dever agir assim.
A partir daí,
eles fizeram do PT um Al Capone às avessas. Um mundo bizarro onde a
máfia é que dita à Justiça os termos do processo, a forma da ação e, se
possível, as penas. O castigo exemplar dos “mensaleiros”, essa marca de
leproso criada pela mídia venerada pelo reacionarismo nacional, um
insulto a ser gritado em aviões de carreira, em restaurantes, na rua, um
permanente incentivo ao linchamento moral e físico dos envolvidos para
que todos tivessem certeza do que viria.
O partido havia
cometido um crime, o de caixa dois, mas era preciso encarcerar seus
principais líderes por motivos muito mais graves. Por formação de
quadrilha, por exemplo. Consolidou-se a ideia dentro das classes
dominantes, portanto, de que seria possível fazer o Poder Judiciário
realizar a façanha de implodir o PT e acabar com a hegemonia eleitoral a
tempo de eleger José Serra, primeiro, em 2010, presidente da República;
depois, em 2012, na capital paulista, eleição ganha por Fernando
Haddad, apesar de o julgamento do mensalão no STF ter sido agendado
meticulosamente de tal maneira a garantir sentenças em série justo nos
dias anteriores à votação do segundo turno. De tão descarado, esse
movimento da mídia de ostensiva proteção do establishment financista e
latifundiário, nos envergonha mais do que assusta. Um jornalismo de
quinta, um parente hediondo posto em casa ao qual fomos, até aqui,
obrigados a aturar.
A vitória da tese dos embargos
infringentes tem muitos significados políticos interessantes. O
principal deles, o fato de que eles perderam.
A trama encadeada
desde os primeiros anos do primeiro governo Lula, entre 2003 e 2006,
fez do mensalão um mantra maligno dito como oração em ambientes tão
diversos como o Clube Militar do Rio de Janeiro, renomado hospício de
ideias golpistas, e as manifestações de junho passado. Graças ao
mensalão, lideranças petistas históricas – José Dirceu e José Genoíno –
poderiam ser colocados sob ferros, com antes fizeram os golpistas
propriamente ditos. E assim foi feito.
Ocorre que Lula, outra
vez, não estava acessível a eles, apesar dos muitos esforços para
incluir o ex-presidente na AP 470. Era preciso, portanto, destruir seus
companheiros. Colocar Dirceu dez anos na cadeia, e Genoíno, seis.
Torná-los exemplos desta dosimetria agendada pelo furor da mídia e pela
agenda da oposição, circunstância onde vieram se abrigar cenas
lamentáveis de juízes vociferando clichês moralistas como se moral
jurídica fossem.
Por uma dessas contingências muito raras, foi
um conjunto de regras do tribunal, e não a razão pura da lei, que fez o
sistema acionar um mecanismo de reequilíbrio alheio ao temor
generalizado de um novo julgamento, isso é ridículo. Um mecanismo para
varrer os espinhos e anular a peçonha do show de vaidades de onde vieram
todas as mazelas do julgamento da AP 470.
Uma forma que seis
ministros do Supremo arranjaram para dizer que um juiz não pode fazer
Justiça sem zelar pela dignidade do processo, simples assim.
Então, quando os termos da inquisição já estavam aparentemente fechados,
a correção de rumo feita pelos embargos infringentes fez ruir a sanha
de certa matilha raivosa espalhada pela mídia e pelas redes sociais. Lá,
caçam “petralhas”, a submarca mensaleira, num inusitado ambiente
psicológico dentro do qual uma fantasia pretende se impor a uma
realidade histórica indestrutível, a de que, uma vez no poder, os
famigerados “petralhas” fizeram o primeiro ponto de inflexão social do
País desde o fim formal da escravidão, em 1888. Feito isso, e por isso
mesmo, estavam sendo obrigados a passar para a História como os demônios
inventores da corrupção.
O longo voto de Celso de Mello,
sexto de mesma posição dentro do STF, descontruiu o mito da
invencibilidade da mídia e de seus perigosos lacaios. Deu ao Brasil uma
sensação de segunda chance muito além do julgamento do mensalão. Foi um
voto que trouxe ao processo uma nuvem de sensatez, mas foi também uma
mensagem do decano sobre os limites da insensatez.
E assim, privado o Supremo do serviço ao ódio e à vingança, mesmo mantida as condenações, ainda assim, eles perderam.
E duvido que consigam se recuperar tão cedo.
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A partir daí, eles fizeram do PT um Al Capone às avessas. Um mundo bizarro onde a máfia é que dita à Justiça os termos do processo, a forma da ação e, se possível, as penas. O castigo exemplar dos “mensaleiros”, essa marca de leproso criada pela mídia venerada pelo reacionarismo nacional, um insulto a ser gritado em aviões de carreira, em restaurantes, na rua, um permanente incentivo ao linchamento moral e físico dos envolvidos para que todos tivessem certeza do que viria.
O partido havia cometido um crime, o de caixa dois, mas era preciso encarcerar seus principais líderes por motivos muito mais graves. Por formação de quadrilha, por exemplo. Consolidou-se a ideia dentro das classes dominantes, portanto, de que seria possível fazer o Poder Judiciário realizar a façanha de implodir o PT e acabar com a hegemonia eleitoral a tempo de eleger José Serra, primeiro, em 2010, presidente da República; depois, em 2012, na capital paulista, eleição ganha por Fernando Haddad, apesar de o julgamento do mensalão no STF ter sido agendado meticulosamente de tal maneira a garantir sentenças em série justo nos dias anteriores à votação do segundo turno. De tão descarado, esse movimento da mídia de ostensiva proteção do establishment financista e latifundiário, nos envergonha mais do que assusta. Um jornalismo de quinta, um parente hediondo posto em casa ao qual fomos, até aqui, obrigados a aturar.
A vitória da tese dos embargos infringentes tem muitos significados políticos interessantes. O principal deles, o fato de que eles perderam.
A trama encadeada desde os primeiros anos do primeiro governo Lula, entre 2003 e 2006, fez do mensalão um mantra maligno dito como oração em ambientes tão diversos como o Clube Militar do Rio de Janeiro, renomado hospício de ideias golpistas, e as manifestações de junho passado. Graças ao mensalão, lideranças petistas históricas – José Dirceu e José Genoíno – poderiam ser colocados sob ferros, com antes fizeram os golpistas propriamente ditos. E assim foi feito.
Ocorre que Lula, outra vez, não estava acessível a eles, apesar dos muitos esforços para incluir o ex-presidente na AP 470. Era preciso, portanto, destruir seus companheiros. Colocar Dirceu dez anos na cadeia, e Genoíno, seis. Torná-los exemplos desta dosimetria agendada pelo furor da mídia e pela agenda da oposição, circunstância onde vieram se abrigar cenas lamentáveis de juízes vociferando clichês moralistas como se moral jurídica fossem.
Por uma dessas contingências muito raras, foi um conjunto de regras do tribunal, e não a razão pura da lei, que fez o sistema acionar um mecanismo de reequilíbrio alheio ao temor generalizado de um novo julgamento, isso é ridículo. Um mecanismo para varrer os espinhos e anular a peçonha do show de vaidades de onde vieram todas as mazelas do julgamento da AP 470.
Uma forma que seis ministros do Supremo arranjaram para dizer que um juiz não pode fazer Justiça sem zelar pela dignidade do processo, simples assim.
Então, quando os termos da inquisição já estavam aparentemente fechados, a correção de rumo feita pelos embargos infringentes fez ruir a sanha de certa matilha raivosa espalhada pela mídia e pelas redes sociais. Lá, caçam “petralhas”, a submarca mensaleira, num inusitado ambiente psicológico dentro do qual uma fantasia pretende se impor a uma realidade histórica indestrutível, a de que, uma vez no poder, os famigerados “petralhas” fizeram o primeiro ponto de inflexão social do País desde o fim formal da escravidão, em 1888. Feito isso, e por isso mesmo, estavam sendo obrigados a passar para a História como os demônios inventores da corrupção.
O longo voto de Celso de Mello, sexto de mesma posição dentro do STF, descontruiu o mito da invencibilidade da mídia e de seus perigosos lacaios. Deu ao Brasil uma sensação de segunda chance muito além do julgamento do mensalão. Foi um voto que trouxe ao processo uma nuvem de sensatez, mas foi também uma mensagem do decano sobre os limites da insensatez.
E assim, privado o Supremo do serviço ao ódio e à vingança, mesmo mantida as condenações, ainda assim, eles perderam.
E duvido que consigam se recuperar tão cedo.
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