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23/09/2013
Os sinais de ressaca na campanha sobre a AP 470
seg, 23/09/2013 - 17:11
- Atualizado em 23/09/2013 - 18:23
É curioso o estágio atual da mídia frente a AP 470. Ainda há espaço
para os carniceiros, os estimuladores da manada. Mas, em momentos cada
vez mais frequentes percebe-se um cansaço, uma certa lassidão que sucede
os grandes episódios orgiásticos, seja na guerras sangrentas ou na
pornografia. São sentimentos similares, denotadores da falta de limites.
A manifestação de Ives Gandra da Silva Martins - que, antes da
Folha, já externara o mesmo desconforto na insuspeita revista da
Associação Comercial de São Paulo - é significativa, por partir de uma
das fontes preferenciais do establishment midiático.
O desconforto não é apenas em relação à teoria do domínio do fato -
que poderá reverter contra os advogados em suas causas futuras. É
também em relação à postura de magistrados, à perda de referenciais de
cortesia, ao deslumbramento com os refletores.
A ele se somam manifestações de colunistas mais independente,
pequenas brechas na muralha para abrigar o desconforto de outros
juristas, advogados, análises mostrando a inutilidade do carnaval para
as eleições de 2014.
Os objetivos não alcançados
A ofensiva midiática teve dois objetivos. O primeiro, desviar o
foco da cobertura da CPMI de Carlinhos Cachoeira. O segundo, o de não
apenas condenar, mas liquidar, humilhar, destruir, salgar a terra por
onde passasse José Dirceu, pelo desplante de ter afrontado a mídia em
diversas ocasiões.(Grifos em verde negritado são do ContrapontoPIG)
Faz parte de uma lógica imperial: quem ousar se interpor no caminho
da mídia precisa ser totalmente destruído como tática de disuasão.
Ninguém ganhou com essa demonstração irresponsável de poder.
Perdeu a mídia, perdeu o país e, principalmente, perdeu o Supremo.
Em nome da vingança atropelaram-se normas básicas de direito
individual. Caminham para transformar réus em vítimas. Se preso, Dirceu
se tornará herói em vida, ao invés da pessoa que, para garantir a
governabilidade ao partido, singrou por águas turvas.
O que era para ser a punição exemplar de práticas políticas
condenáveis, transformou-se no oportunismo mais rasteiro, revelando a
outra face da mesma moeda de corrupção política: quando agentes se valem
seletivamente dos vícios do sistema para jogadas oportunísticas.
A hipocrisia política brasileira
De fato, não há diferença entre réus e alguns dos julgadores. Todos
fazem parte da mesma tradição de hipocrisia do modelo político
brasileiro.
O jogo sempre é o mesmo. Há um conjunto de vícios no modelo.
Partidos de oposição se fortalecem denunciando os vícios de quem está no
poder. Quando conquistam o poder, repetem os mesmos vícios. Aí a nova
oposição passa a criticar os vícios, utilizando-os de escada para
reconquistar o Poder. Mas ninguém se preocupa em corrigir os vícios,
porque todos se beneficiam deles: quem pratica e quem denuncia.
Ao julgar seletivamente os vícios do PT, Ministros do Supremo
agiram com a mesma hipocrisia dos partidos políticos. Não há diferença.
Pertencem todos ao mesmo lodo institucional, no qual impera a esperteza,
jamais o compromisso de aprimorar as regras do jogo.
A ressaca
Agora, tem-se essa lassidão. Há um incômodo generalizado no sistema
judiciário, pelo fato da face pública do poder ser um Gilmar Mendes, um
Luiz Fux, um Joaquim Barbosa, e não mais um Moreira Alves ou mesmo um
Celso de Mello. Um incômodo generalizado entre jornalistas independentes
- que trabalham ainda na velha mídia - pelo fato de, na fase mais dura
do macartismo, nao terem podido externar sua indignação com o
antijornalismo praticado.
À medida em que cessa o álibi da guerra total, vai caindo a ficha
geral sobre o estrago que esses tempos de devassidão jurídica provocaram
na imagem do Judiciário e na esperança daqueles que ainda acreditavam
que o escândalo é a espoleta para as mudanças.
No país da jabuticaba, não é: é apenas o holofote para levantar o ego togado de Ministros de pouca grandeza.
No país da jabuticaba, não é: é apenas o holofote para levantar o ego togado de Ministros de pouca grandeza.
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