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30/09/2013
A tragédia da civilização automotiva
Do Nassif - seg, 30/09/2013 - 10:23
- Atualizado em 30/09/2013 - 11:00
Do Brasil de Fato
A tragédia da civilização do automóvel
O carro promete liberdade, mas se
tornou uma espécie de cárcere privado. A tragédia da ‘civilização do
automóvel’ é resultado das políticas do Estado que sempre foram
generosas com a indústria automotiva
Cesar Sanson
Há exatos 40 anos, num ensaio
considerado visionário, André Gorz publicou um texto intitulado ‘Le
Sauvage’ [O Selvagem]. O ensaio, datado de 1973, é considerado pelos
ambientalistas como o ‘Manifesto contra o carro’ por antecipar a
tragédia da civilização do automóvel. No texto, Gorz afirma que “o carro
fez a cidade grande inabitável, a fez fedorenta, barulhenta, sufocante,
empoeirada, congestionada”.
O carro instaurou uma lógica e um
estilo de vida que promete liberdade, mas no lugar de ir e vir se tornou
uma espécie de cárcere privado. Paradoxalmente, promete agilidade, mas
proporciona a lentidão dos tempos pré-industriais. Promete ganhar tempo,
mas na realidade faz perder tempo.
Eles entopem os estacionamentos das
universidades privadas e públicas, dos aeroportos, dos shoppings, dos
supermercados. Estacionar já se tornou um drama. Ter uma vaga cativa – e
gratuita – é um privilégio que se assemelha ao da casa própria. Nos
grandes centros já é mais caro estacionar do que almoçar.
O estresse no trânsito é alto, os
engarrafamentos enormes, a irritação é grande, mas ninguém quer abrir
mão do carro. E ainda tem mais: quanto mais potente, belo e equipado,
melhor. O sociólogo Richard Sennett, em seu livro A nova cultura do
capitalismo, afirma que as pessoas se movem pela "paixão consumptiva"
que assume as formas de "envolvimento em imagística e incitação pela
potência", ou seja, as pessoas quando consomem não compram apenas
produtos, mas prazer e poder.
O fantástico e maravilhoso mundo
prometido pelo carro tem um outro lado menos edificante. O carro provoca
o caos, confusão, barulho, estresse, poluição, perdas econômicas e, o
pior, mata. E mata muito. As estatísticas dão conta de que mata em média
mais de 50 mil pessoas por ano, apenas no Brasil.
A tragédia da ‘civilização do
automóvel’ tem como um dos responsáveis as políticas do Estado que
sempre foram generosas com a indústria automotiva. No caso brasileiro, o
modelo de desenvolvimento ancorou nas montadoras a sua base
crescimentista. Desde Juscelino Kubistchek, a indústria automotiva
recebe incentivos, subsídios e isenções.
Erigimos o ‘Império do automóvel’ e
agora - da prometida sociedade do bem-estar -, ele, o carro, nos empurra
para um crescente mal-estar. A mobilidade prometida pelo carro aos
indivíduos se tornou fonte de angústia, estresse e sofrimento.
Outra mobilidade e cidade são
possíveis, porém é preciso superar a cultura carrocentrista e promover
ousadas políticas públicas que invistam pesado no transporte coletivo.
Cesar Sanson é professor de sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
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