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25/09/2013
De espionagem e arapongas
Mário Augusto Jakobskind
A recente espionagem feita pelos serviços de inteligência
estadunidense no Brasil e na América Latina, reveladas graças, entre
outros, a figuras como Edward Snowden, Julien Assange e Gleen Greenwald,
não chegam a se constituir em fato novo propriamente dito. O que mudou
apenas foi a tecnologia utilizada. Em décadas anteriores, arapongas da
CIA e maus brasileiros que ajudavam no serviço faziam o jogo.
Muitos dos apoiadores de então, ou já estão ardendo no inferno ou,
impunes, aproveitando a aposentadoria pelos serviços prestados como
mercenários. Um ou outro segue até ocupando espaços midiáticos com a
mesma linguagem de ódio da época da Guerra Fria, Tem alguns residindo
próximo da área onde se localiza a sede da CIA, em Richmond, na
Virgínia.
Na história contemporânea são vários os países que sofreram com a
ação da CIA, entre os quais o Irã, em 1953, com a derrubada do
nacionalista Mohammed Mossadegh, que ficou em prisão domiciliar para o
resto da vida. O líder iraniano é lembrado em livros de história e com a
revelação dos documentos da época confirmou-se a intervenção da CIA, do
serviço secreto inglês e israelense no golpe de estado.
Uma figura importante daquela época, embora não tão conhecida como
Mossadegh é a do então Ministro dos Negócios Estrangeiros daquele
governo, o jornalista Hossein Fatimi, um dos idealizadores do projeto de
nacionalização do petróleo iraniano. Ele foi fuzilado por ordem do
preposto dos EUA, o Xá Rheza Parlevi, que ainda chegou a manter relações
amistosas com alguns ditadores brasileiros, como Castelo Branco, Costa e
Silva e Médici, que, hoje já se sabe oficialmente com os arquivos
revelados, tomaram o poder com a ajuda da CIA.
O Brasil não esteve de fora das artimanhas da CIA, presentes em 1954
com seus arapongas e mercenários que levaram Getúlio Vargas ao suicídio.
Hoje se sabe também que depois da negativa de Vargas em mandar tropas
brasileiras para lutar na Coreia em ajuda aos EUA, somado à criação da
Petrobras, os quinta-colunas destas bandas intensificaram ações de
desestabilização do governo eleito pelo povo. (Grifos em verde negritado são do ContrapontoPIG)
O golpe de abril de 1964, que provocou a ruptura constitucional e
lançou o Brasil em uma longa noite escura, só foi possível acontecer com
o respaldo logístico e financeiro da CIA. Quase 50 anos depois, as
informações sobre esse período nefasto são maiores do que as de 1954. É
possível até que os pesquisadores não se debruçaram tanto para
certificar muitas ocorrências até hoje não totalmente esclarecidas.
Nem tudo, entretanto, ainda foi revelado. Recentemente, por exemplo, o jornalista Continentino Porto, autor do livro JK segundo a CIA e SNI,
teve mais acesso a documentos da CIA que comprovam a participação de um
agente secreto a serviço dos EUA acompanhando em um hospital militar o
então Ministro da Guerra (na época tinha essa denominação), Jair Dantas
Ribeiro, que se afastara do cargo dias antes do golpe de 64 por motivo
de saúde. O araponga da CIA produzia relatórios diários, que
provavelmente eram repassados para os golpistas militares e civis
brasileiros.
Tais fatos, que fazem parte da memória deste país continente, devem
ser sempre lembrados, porque se alguém imagina que a CIA e outros
serviços de inteligência deixaram o Brasil sossegado, enganam-se
redondamente. Quanto mais o país ganha importância no cenário
internacional, o que aconteceu sobretudo nos últimos 10 anos, maior a
ação dos serviços secretos estrangeiros por estas bandas.
Nesse sentido, os brasileiros devem ficar atentos para não caírem em
armadilhas sofisticadas gestadas por grupos que historicamente sempre
estiveram vinculados aos interesses de potências como Estados Unidos.
Antes do golpe que derrubou o Presidente constitucional João Goulart,
a CIA encheu com muitos milhões de dólares as comportas de institutos
como o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e o IPES
(Instituto de Pesquisas Econômicas e Socais). O objetivo do IBAD era
formar uma bancada que defendesse os interesses norte-americanos e
consequentemente divulgar a catilinária anticomunista da época da Guerra
Fria. O IPES, capitaneado pelo então coronel Golbery do Couto e Silva,
procurava também fazer cabeças preparando-as para o apoio incondicional
ao golpe de 64.
Tais fatos não chegam a ser uma grande novidade, porque depois de
tantos anos decorridos, o que muitos já sabiam, através de indícios ou
pesquisas de campo, os arquivos públicos informativos a respeito deixam
claros.
Nos dias de hoje, o grande mérito dos personagens mencionados no
início desta reflexão é que eles revelaram (e devem continuar revelando
mais fatos) antecipadamente muitas informações que se tornariam
públicas, se é que se tornariam, daqui a 30, 40 ou 50 anos.
Por estas e muitas outras pode ser explicado o ódio do establishment
estadunidense a figuras como Snowden, Assange, Manning e Swartz,. que na
sexta-feira (20) foram homenageados com o Prêmio Internacional de
Direitos Humanos instituído pela Comissão de Defesa da Liberdade de
Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Mário Augusto Jakobskind. É
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador
do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da
Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de
Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia,
Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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