terça-feira, 2 de agosto de 2016

Nº 19.663 - "Sobre as pessoas que não sabem sentir a dor alheia. Por Sidney Rezende"

 

02/08/2016

 

Sobre as pessoas que não sabem sentir a dor alheia. Por Sidney Rezende

 

cancer

Anteontem, escrevi sobre o absurdo da grosseira observação de Michel Temer ao governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, de que o câncer lhe “tinha feito bem”, o deixando “mais bonito”.

Ontem, retive minha vontade de dizer de novo uns desaforos, emocionados,  porque o câncer levou, neste mesmo domingo que passou, a diagramadora Eunice Ribas Sanches, minha querida colega, em 1982, na velha Tribuna da Imprensa.

Mas hoje não vou me podar de reproduzir o texto de Sidney Rezende, que dá o tamanho do drama humano que o palerma metido a gracejador, usou como piada.

Câncer, não. Obrigado.

Sidney Rezende

Resultado de imagem para sidney rezendeNão. Não foi a “dentuça”. Foi o presidente interino Michel Temer. E como foi ele, e não ela, o assunto já é de anteontem e não merece tanta repercussão. Mas, na minha idade, a memória fixa melhor quando o assunto é “antigo”. Se tivesse ocorrido hoje, talvez, assim como a grande imprensa, eu também não lembraria direito como aconteceu…

Como sabem, o governador licenciado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, apareceu careca na inauguração da Linha 4 do Metrô carioca por conta dos efeitos colaterais da sistemática quimioterapia a que é submetido às segundas-feiras, no tratamento de um linfoma não-Hodgkin, um tipo comum de câncer.

Ao encontrá-lo e buscando demonstrar o quanto é afetuoso, Temer se superou: “Quero registrar a alegria de reencontrar o Pezão. Até dizia a ele que existem coisas que parecem maléficas que vêm para o bem. Vou tomar a liberdade de fazer um comentário pessoal: Pezão, você está até mais bonito. Acabou sendo uma coisa útil para o Pezão”.

Diríamos, no mínimo, que são daquelas “vantagens” que, à exceção de Michel Temer, todos os demais “declinam”. Os mais educados talvez sejam ainda polidos: “não, muito obrigado, câncer, não! Agradeço. Passo”. 

De acordo com o Inca, o câncer é a segunda maior causa de morte por doença no país (atrás apenas das cardiovasculares).

A estimativa de novos casos de câncer para o Brasil, em 2016 (válida também para 2017), aponta a ocorrência de 596.070 casos novos de câncer. 

Excetuando-se o câncer de pele não melanoma (aproximadamente 180 mil casos novos), ocorrerão cerca de 420 mil casos novos de câncer (214.350 em homens e 205.960 em mulheres). 

O perfil epidemiológico observado assemelha-se ao da América Latina e do Caribe, onde os cânceres de próstata (61.200), em homens, e mama (57.960), em mulheres, serão os mais frequentes. 

O número de óbitos por câncer nos últimos 10 anos, de 2005 a 2014 (ano mais recente disponível), de acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade, aumentou de 142.659 para 194.998 casos. 

A possibilidade de cura ou sobrevida do paciente depende de uma série de fatores, tais como o tipo e extensão do tumor, se há ou não metástase e o estado geral do paciente, assim como as doenças preexistentes. 

Cerca de 50% dos casos, nos países desenvolvidos, são curados. No Brasil, estima-se que este número seja menor, pelo fato de os diagnósticos serem feitos mais tardiamente. 
Em tempo, a Fundação do Câncer tem como um dos seus grandes desafios pensar um projeto para melhorar a assistência aos pacientes com câncer no Rio de Janeiro, que inclua desde o diagnóstico precoce até a cura ou os cuidados paliativos. Já sobre a brilhante folha de serviços do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva – Inca, de tão longa, não dá nem para listar aqui.

Talvez antes de ir até a novíssima plataforma do Metrô, o vice-presidente que caiu de paraquedas na cadeira de titular no Palácio do Planalto devesse ir mais vezes visitar aqueles que, no leito, lutam bravamente contra esta doença demoníaca. De preferência, em silêncio. Até em respeito aos parentes dos pacientes e aos seus compatriotas. 

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