30/09/2016
Requião: Golpe é esquartejamento da soberania!
É espantoso que algum ser humano possa aceitar isso!
Conversa Afiada - publicado
30/08/2016
"Este Senado está prestes a repetir a ignomínia de março de 64"
O Conversa Afiada reproduz discurso feito pelo senador Roberto Requião nesta terça-feira (28):
Não pretendo, nesta histórica sessão, moderar a linguagem ou asfixiar o que penso. Não vou reprimir a indignação que me consome.
Canalha! Canalha! Canalha!
Assim Tancredo Neves apostrofou Moura
Andrade que declarou vaga a Presidência, com Jango ainda em território
nacional, consumando o golpe de 1964.
Duvido que um só de nós esteja convencido de que a presidente Dilma deva ser impedida por ter cometido crimes.
Não são as pedaladas ou a tal da irresponsabilidade fiscal que a excomungam.
O próprio relator da peça acusatória praticou-as à larga.
Só que lá em Minas não havia um
providencial e desfrutável Eduardo Cunha e nem um centrão querendo
sangue, salivando por sinecuras e pixulecos.
A inocência do relator é a mesma de Moura Andrade declarando vaga a Presidência.
Ah, as palavras de Tancredo coçam-me a garganta.
Este Senado está prestes a repetir a ignomínia de março de 64.
O que se pretende?
Que daqui a alguns anos se declare nula
esta sessão, com declaramos nula a sessão que tirou o mandato de
Goulart e peçamos desculpas à filha e aos netos de Dilma?
Tudo bem.
Se mesmo sem culpa, esta Casa condenar a presidente, que cada um esteja consciente do que há de vir.
Que ninguém, depois, alegue ignorância
ou se diga trapaceado, porque as intenções do vice que quer ser titular
são claras, solares.
Vejam só alguns casos exemplares.
1. Desvincular o reajuste das
aposentadorias e pensões do aumento do salário mínimo. Será a destruição
do maior instrumento de distribuição de renda do país, que é a
Previdência Social.
Se pensões e aposentadorias não mais
acompanharem o aumento do salário mínimo vai ser um massacre contra mais
de 20 milhões de brasileiros.
Para quê?
Para pagar os juros da dívida; os juros que são hoje o maior instrumento de concentração de renda no Brasil.
2. Rever direitos e garantias sociais
acumulados ao longo dos últimos 80 anos, especialmente direitos e
garantias previstos na CLT. Impor, como pedra de toque dessa revisão, o
negociado sobre a legislado.
3. Eliminar tímidas conquistas na área da igualdade de gênero.
4. Congelar por inacreditáveis 20 anos
as despesas correntes e de investimento da União, excetuando-se as
despesas financeiras com o serviço da dívida pública.
Ou seja: congelar por duas décadas as
despesas com saúde, educação, segurança pública, saneamento,
infraestrutura, habitação, mas garantir o pagamento de juros.
É como proibir que, por 20 anos, nasçam
crianças, que jovens tenham acesso às escolas; que os brasileiros
envelheçam ou fiquem doentes. E assim por diante.
É espantoso que algum ser humano tenha
um dia concebido tamanha barbaridade. E mais espantoso ainda que algum
ser humano possa aprovar isso.
5. Privatização em regra e alienação
radical de todo o patrimônio energético, mineral, florestal, agrário,
territorial, hídrico, fabril, tecnológico e aéreo do Brasil.
Depois da entrega do pré-sal, da venda
de terras para os estrangeiros, querem entregar até mesmo o Aquífero
Guarani, a maior reserva de água potável do planeta.
O desmantelamento do país, o
esquartejamento de nossa soberania e a submissão aos interesses
geopolíticos globais gritam, berram, expõem-se à vista de todos.
Tudo bem.
Se as senhoras e o senhores concordam
com a redução do Brasil a um medíocre estado associado, outro Porto
Rico, que se sintam servidos. Não será a primeira vez que os abutres e
os corvos caem sobre o nosso país, retalhando-o, estraçalhando-o,
sugando-o.
Essa combinação explosiva de
entreguismo com medidas contra os aposentados, os assalariados, os mais
pobres, contra direitos e conquistas populares alimentam as contradições
de classe, em consequência, a luta de classes.
As senhoras e os senhores estão preparados para a guerra civil?
Não? Entrincheirem-se, então, porque o conflito é inevitável.
O povo brasileiro, que provou por alguns poucos anos, o gosto da emergência social não retornará submissamente à senzala.
Os dias de hoje, esses infelizes dias, lembram-me outros dias, também dramáticos, decisivos:
os dias de agosto de 1954.
Assim, leio trechos da Carta Testamento de Vargas porque nela se reproduzem o drama de agora.
“Mais uma vez as forças e os interesses
contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me
acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de
defesa.
Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
(….)
A campanha subterrânea dos grupos
internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o
regime de garantia do trabalho.
(…….)
Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.
Quis criar a liberdade nacional na
potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa
esta a funcionar a onda de agitação se avoluma.
(…..)
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora
a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando
em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o
povo que agora se queda desamparado.
Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue.
Se as aves de rapina querem o sangue de
alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em
holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco.
Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado.
Quando a fome bater à vossa porta,
sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.
Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a
reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa
bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na
vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência.
(….)
Esse povo, de quem fui escravo, não
mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua
alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto.
O ódio, as infâmias, a calúnia não
abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha
morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da
eternidade e saio da vida para entrar na história."
.
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