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19/12/2016
A solução certa
Carta Capital —
publicado
19/12/2016 06h40
Diretas antecipadas são a saída que a Razão recomenda para resolver a maior crise da história do Brasil. No entanto...
Roberto Parizotti/CUT
Representações oficiais de partidos não deveriam participar da campanha
por Mino Carta
Diretas já é a proposta que ecoa de diversos cantos. A começar por Lula,
mais de uma vez, ao mirar em uma solução para uma saída rápida da crise
precipitada pelo golpe. A rapidez é altamente aconselhável, porque as
consequências do desastre se acentuam a cada dia e os projetos do governo estão longe de oferecer a mais pálida vez à esperança, pelo contrário, agravam a calamidade.
A saída pela tangente eleitoral é absolutamente sensata, e
tal é seu defeito. Há dois anos o País padece a insensatez dos
golpistas e nada induz à crença de que esse quadro patológico por ora
possa ser revertido. Um debate a respeito do assunto não deixaria de
ser, neste exato instante, puramente teórico.
A campanha das Diretas Já de 1984 é um
dos raros momentos empolgantes da história brasileira, como movimento
popular autêntico e imponente. A mobilização levou às ruas e praças
milhões de cidadãos, dispostos a desafiar a ditadura unidos pela ideia.
Seria possível hoje uma mobilização similar?
Convoco meus carbonários
botões e logo respondem: seria desde que figuras indiscutíveis da
cultura, da universidade, da ciência, e mesmo da política,
representativas do que nos sobra da inteligência e da Razão,
participassem ativamente da campanha com dedicação total. Não acreditam
os botões na conveniência da presença de representações oficiais dos
partidos e sim na contribuição incessante das redes sociais.
Se fosse assim, o apoio de CartaCapital
seria imediato. Ao restabelecer o ideal democrático, caiba ao povo a
escolha do futuro. Antes de mais nada, sem a interferência de quem o
desgraçou ao longo dos séculos e alcança agora algo assim como a
condenação de todos os pecados, da prepotência à hipocrisia, da
mediocridade à estultice, da arrogância à incompetência, da ignorância à
vulgaridade. Etcétera.
Na Itália, de onde acabo de regressar,
uma crise também política e econômica, muito diferente da nossa em um
país com 3 mil anos de história, ganha substância a ideia de antecipar
as eleições previstas para abril de 2018. Está claro que na Itália um
golpe à brasileira é inimaginável, como em qualquer país democrático e
civilizado, onde o Estado de Direito permanece em pleno vigor.
Antecipar as eleições de 2018 seria no
Brasil o recurso indispensável para recolocar o País na direção certa,
ou melhor, colocar, com a clareza e firmeza com as quais nunca se deu.
Tudo depende, para o êxito da empreitada, da pressão popular e de como
for orquestrada. Memento, recomendaria o arauto da antiga Roma, lembrai-vos do passado, recomendação muito útil no país desmemoriado.
Mesmo triunfantes na mobilização, as Diretas Já de 1984
foram derrotadas pelos fados malignos que sempre rondam nossa história. O
enredo poderia ser comparado a um desses contos renascimentais que
Shakespeare retomou para torná-los tragédias.
Uma emenda do deputado Dante de Oliveira para a convocação
das diretas transita no Congresso e é finalmente rejeitada por uma
maioria de dois votos encabeçada por José Sarney.
Forma-se uma Aliança dita Democrática da qual o próprio Sarney participa, juntamente com Tancredo Neves,
Antonio Carlos Magalhães e outros, sem exclusão do Senhor Diretas, o
doutor Ulysses visivelmente a contragosto. Tancredo é candidato às
indiretas contra Paulo Maluf, ganha, adoece gravemente e morre antes da
posse. Sarney, seu vice, assume a Presidência.
Nesta ocasião também a Constituição em
vigor foi rasgada. Por não ter sido empossado o vencedor do pleito, o
vice não poderia substituí-lo e novas eleições teriam de ser realizadas.
Temia-se, porém, o retorno da ditadura e tudo ficou por isso mesmo.
Shakespeare se regalaria, inclusive com a chance de, aqui e acolá,
deitar toques irônicos, como o destino sabe ser, com a devida
malignidade.
CartaCapital tem boa memória, e cuida de não se
iludir. A proposta de eleições antecipadas é justa e salutar. É preciso
levar em conta, porém, a prepotência desenfreada da casa-grande e a
ciclotimia dos fados.
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