20/12/2016
Há uma inteligência organizando a balbúrdia judicial, diz sociólogo
Por Fernando Brito
O sociólogo Luiz Werneck Viana não é, positivamente, um “petralha”. Ao contrário, foi um dos que se regojizaram-se com o impeachment de Dilma Rousseff. chegando a dizer, em artigo no Estadão, que o ciclo petista era “uma página virada na nossa vida republicana”.
Dito isso, a entrevista de Werneck Viana, hoje, no jornalão paulista, traduz – reconheço que sem procuração – o que vai pelo pensamento do alto tucanato, e é o substrato com que ele autojustifica sua adesão ao governo Michel Temer.
Dela, transcrevo um trecho e, a seguir, reproduzo alguns comentários do professor Nilson Lage, feitos muito antes e guardados aqui à espera que e tornasse pública esta torcida interpretação que Vianna explicita, ao dizer que as corporações judiciais praticam um “tenentismo de toga”, embora com a lúcida exclusão de que eles querem o poder, mas não têm programa para o país.
Os vazamentos de delações de
executivos da Odebrecht caíram como uma bomba na classe política. O que
podemos esperar da crise, que parece não ter fim?
Essas coisas não estão acontecendo
naturalmente. Não são processos espontâneos. A esta altura, a meu ver,
não há dúvida de que há uma inteligência organizando essa balbúrdia.
Essa balbúrdia é provocada e manipulada com perícia.
Mas quem faz isso? O Ministério Público? O Judiciário?
Essas corporações tomaram conta do País.
Estão se sobrepondo ao sistema político?
Sim, claramente. E também ganhando
mais poder. Na defesa dos interesses públicos, reforçam suas conquistas
corporativas. Então não se pode mexer na questão do teto salarial.
Podemos concluir que a crise se prolongará, já que isso interessaria a essas corporações?
O fato é que se criou, nesses últimos
anos, uma cultura corporativa muito poderosa. Se você fizer um
recenseamento dessas corporações, dos seus encontros anuais, são
milhares de profissionais que anualmente se reúnem em algum canto, em
geral paradisíaco, para definir a sua agenda, do ponto de vista
corporativo. (…)
Mas as posições defendidas por esses setores têm sustentação na sociedade, não?
Esse andamento não foi previsto. Foi
sendo percebido ao longo do processo. Uma coisa sabiam: que a conquista
da mídia era estratégica. Se você pegar os textos que embasam as ações
da Lava Jato, lá nos escritos do juiz Sérgio Moro, vai ver a percepção
que eles tinham a respeito da mídia como dimensão estratégica. As ruas
foram o inesperado, mas que aos poucos foi-se descobrindo como outra
dimensão a ser trabalhada. Então, montou-se uma rede, que hoje já não
atua mais espontaneamente. Esse processo é, a essa altura, governado.
Imprime-se a ele uma certa direção. Agora, para quê, para onde, acredito
que eles não sabem.
O papel dessas corporações teria de ser revisto?
Só quem pode enfrentar essas
corporações é o poder político organizado. Quando elas são atacadas, se
defendem dizendo que na verdade quem está sendo atingindo é o interesse
público. Conseguiram armar esse sistema que as tem protegido de crítica.
A questão (da limitação) dos altos salários, por exemplo. Dizem que
essas não são medidas corretivas, mas sim que penalizam o poder
judicial. Quando eles se protegem da opinião pública mobilizando na
outra mão a Lava Jato, ficam inatacáveis.
O governo Temer sobrevive até 2018? Chegaremos às eleições?
Torço para que isso ocorra. Porque a
destruição desse governo agora nos joga nas trevas. Destitui-lo para
quê? Para fazer eleição direta? Mas como? Fazer eleição direta neste
caos? Quem vai ganhar isso?
Vivemos uma espécie de “Revolução dos bacharéis”?
Não, não, não. Tem uma metáfora melhor, a dos tenentes.
Dias atrás, quando alguns começaram a fazer esta comparação, recebi do Professor Nílson Lage um texto, muito claro, onde se mostra que, apesar da forma voluntarista com que se apresentam, os bacharéis são o inverso daquele movimentos, que marca a irrupção do Brasil moderno, o do século 20 que nos começou três décadas atrasado.
Num ponto, porém, creio que todos concordamos: o que ocorre não é espontâneo, tem quem lhes puxe os cordéis.
Não são tenentes, são bacharéis
Nilson Lage
Leio articulistas de esquerda fazendo
comparações entre o atual movimento de bacharéis – juízes e
procuradores – com o tenentismo de há um século.
O paralelo é atraente, mas enganoso.
A começar pelo fato de que nada mais antibacharelesco que aquele movimento.
O tenentismo, evoluindo nos quartéis
em oposição ao civilismo e suas distorções oligárquicas, foi um
movimento complexo, do qual se originaram as vertentes do comunismo de
Prestes, do trabalhismo de Vargas e do autoritarismo que, após a breve
fase de namoro com o fascismo, se fundiria com a modernização
conservadora instigada pelos Estados Unidos no pós-guerra.
Aliás, Filinto Muller e Juarez Távora foram terminar na falecida Arena.
Objetivamente, o tenentismo era
contra o estado de coisas da República Velha, mas propunha soluções
alternativas e não pretendia, ao ser lançado, a tomada do poder pela
corporação militar.
Hoje, juízes, procuradores e policiais nada têm a propor senão a destruição do que está feito, com total descritério.
Sua luta não tem grandeza, porque
motivada por poder e dinheiro. Aliás, ao contrário da dos tenentes,
sequer correm riscos, porque indemissíveis e com poder de polícia.
O tenentismo foi, na sua origem,
movimento nacional que expressou, do ponto de vista militar, o
sentimento difuso da inteligência brasileira da época, que pretendia
promover o crescimento econômico, a integração nacional e a redução das
desigualdades.
Nada parecido com a campanha dos
bacharéis, evidentemente inspirada e instrumentada por potência
estrangeira, ignorante da economia e alheia aos problemas sociais.
.
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista