segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Nº 20.587 - "Brasil 247 - 26 de Dezembro de 2016"

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26/12/2016

Brasil 247 - 26 de Dezembro de 2016



Brasil 247 - 26/12/2016




ALEX SOLNIK


A produção cultural brasileira chafurdou mais uma vez na indigência intelectual, econômica e artística em 2016.

Nenhum filme brasileiro arrebentou.

Um ou dois receberam destaque nacional e internacional em meio a um dilúvio de comédias primárias, infantis e sem graça.

O melhor deles, “Aquarius”, foi boicotado pelo establishment por ter protestado contra Temer.

Foi restabelecida, portanto, a censura oficial, que não impede a exibição, mas não deixa o filme ir adiante, ganhar mundo.

Nenhum movimento como foi o Cinema Novo, a chanchada, nada, nada, nada. Telas desertas de Brasil. E uma avalanche de blockbusters canalizando milhões de dólares para a terra de Obama.

Na TV, os humoristas de maior sucesso são os histriônicos e insuportáveis Leandro Hassum, Fábio Porchat e Paulo Gustavo. São sempre os três primeiros colocados no campeonato de quem berra mais alto durante mais tempo.

Mas estão milionários.

A mídia discute se a melhor cantora do ano foi Anitta ou Ivete Sangalo. Em outros tempos, estaria discutindo se elas são cantoras.

Cantores? Para a Globo existe apenas um, o único que recebe todos os meses para se apresentar somente uma vez no ano: Roberto Carlos.

E se a Globo decidiu que ele é o nosso Frank Sinatra quem vai contestar?

Artistas plásticos ainda existem no Brasil? Onde estão? Ah, sim parece que tem um. Em Miami. Como se chama mesmo?

O gênero musical preferido no país é o sertanejo- universitário cuja parte melódica se baseia em três acordes, a poética é mais rasa que os celulares de última geração e os intérpretes são sempre dois homens. Um dos quais canta esganiçado.

No teatro, além das comédias ligeiras cujo chamariz são atores da novela das 9 e dos musicais importados da Broadway nenhum novo talento, nenhuma revelação depois das extravagâncias lúdicas do Oficina e dos sambas-enredo pretensiosos de Antunes Filho que se repetem há décadas.

A produção literária, sufocada por um mercado editorial que se dedica a comprar best-sellers na Feira de Frankfurt é pífia, condenando o leitor brasileiro às xaropadas que vendem milhões de exemplares no exterior. O único escritor brasileiro mora em Genebra.

E sobrevive porque sabe tirar coelhos da cartola.

As principais revistas e jornais impressos tentam desesperadamente sobreviver às intempéries da informação eletrônica, missão para a qual contam com uma das piores gerações de jornalistas, tanto no comando quanto na produção editorial.

Nenhum Samuel Wainer, nenhum Claudio Abramo, nenhum Narciso Kalili.

A situação é tão atípica que não há uma publicação de humor nas bancas, embora algumas façam humorismo involuntário com suas capas apocalípticas.

Os telejornais das grandes irmãs da comunicação nunca se empenharam tanto como em 2016 a abdicarem da sua missão jornalística para cerrar fileiras na conspiração que derrubou a presidente Dilma.

Os blogueiros mais imbecis e mais radicais são os de maior audiência na internet, tal é a obsessão pelo radicalismo que tomou conta do país.

Mas nada está tão ruim que não possa piorar: temos mais dois anos de Temer pela para afundarmos um pouco mais.


Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos".

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