07/04/2013
Lula, as ruas e descontrução de sua imagem
Por
Davis Sena Filho
Volto
a defender que o ex-presidente trabalhista Luiz Inácio Lula da Silva
vá para as ruas, em busca de quem lhe apoia e confia. Lula tem de se
reportar à imensa classe trabalhadora brasileira e aos seus
eleitores, se o “político” conservador e procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, e juízes ideologicamente de direita, a
exemplo dos senhores Joaquim Barbosa, Marco Aurélio de Mello e
Gilmar Mendes, entre outros, associarem-se novamente aos políticos
tucanos derrotados três vezes nas urnas e aos barões da imprensa
controladores da mídia oligarca, monopolista e historicamente
golpista, que teimam em considerar o Brasil de duzentos milhões de
habitantes e a sexta maior economia do mundo como o quintal de suas
casas.
Trabalhista no poder deixa realmente a direita desesperada e inconformada. |
Nunca
é tarde para avisar aos políticos e governantes trabalhistas que
eles não podem e jamais devem remediar ou tergiversar sobre a
conduta histórica da direita brasileira, uma das mais violentas e
poderosas do mundo, que edificou uma ditadura sanguinária que em um
tempo de 21 anos fez do Brasil um lugar de barbarismos, onde as leis
se tornaram um borrão no papel e os direitos da pessoa humana eram
considerados conforme a vontade do ditador de plantão e dos
militares, juízes, políticos e policiais que o serviam como
subordinados, com o financiamento e a cumplicidade, evidentemente, de
grandes empresários.
A
direita sabe o que o líder popular, que após oito anos no poder
saiu com 86% de aprovação, representa. Lula é a maior
personalidade política que surgiu no Brasil após Juscelino
Kubitschek e o estadista histórico Getúlio Vargas. Político de
grandeza internacional, reconhecido como pop star quando vai às ruas
ou às universidades brasileiras e do exterior, Lula tem de ser
combatido, sua imagem tem de ser manchada e seus governos
desqualificados, porque a desconstrução de sua pessoa política e
do que ele representa como humanista são as únicas ferramentas que
a direita herdeira da escravidão tem para usar como estratégia para
conseguir uma vitória nas urnas.
Lula
e certos setores da esquerda sabem o que está a acontecer. E a
direita quer o ex-mandatário, ainda muito popular, quieto, no seu
canto, talvez dentro de casa, a assistir a imolação de seu caráter,
a desconstrução de sua imagem e a destruição de seu legado
político, econômico e social. Querem tratar o Lula como se ele
nunca tivesse existido e retirado da pobreza, por exemplo, mais de 30
milhões de cidadãos brasileiros, recuperado a economia em
praticamente todos os segmentos, ter pago a dívida externa, além de
ter livrado o País e seu povo da crise da União Europeia e dos EUA.
Lula construiu o Brasil do quase pleno emprego, o que está a ser
continuado pela presidenta Dilma Rousseff, com a queda dos juros e a
isenção de taxas e impostos para inúmeros produtos.
A
direita está desesperada. Ela é incompetente propositalmente, pois
extremamente egoísta, moralmente violenta e socialmente sectária.
Essa corrente política quer um Brasil para poucos, lugar onde cerca
de 30 milhões de pessoas tenham acesso à educação, à saúde, à
moradia e ao consumo. É a luta para manter a hegemonia de classe e
dessa forma usufruir um País de VIPs. Um Brasil para os ricos, os
muito ricos e uma classe média pequena, mas que mantenha seu poder
de compra para abastecer os bolsos do empresariado tupiniquim, de
cabeça colonizada e com um incomensurável complexo de vira-lata.
Por
isto e por causa disto, o combate sistemático e incessante contra os
políticos das correntes trabalhista e socialista. Para manter tal
combate, a direita partidária e empresarial conta com a substancial
cooperação da poderosa mídia de mercado, a de negócios privados
cujos donos são alienígenas no que se diz respeito aos interesses
do Brasil e de seu povo trabalhador. Lula é o político mais
poderoso do País, juntamente com a Dilma, mesmo sem mandato.
Consequentemente, ao perceber e há muito tempo a posição de Lula
na sociedade brasileira, os conservadores optaram pela estratégia de
desconstruir a imagem do líder político trabalhista.
A
investigação sobre Lula pelo Ministério Público mais do que uma
investigação é um movimento do xadrez político em que a direita
se apoia para judicializar a política, além de apostar em uma
conotação policialesca a cargo da imprensa alienígena, que vai se
encarregar de disseminar a desconstrução de Lula. Por enquanto o
sistema midiático privado está em silêncio, mas o ex-presidente é
a pauta principal, que se encontra nos escaninhos das redações.
O
empresário Marcos Valério, publicitário que iniciou suas
atividades no ninho tucano do ex-governador mineiro, Eduardo Azeredo
(1995/1998), foi condenado a 40 anos de prisão. Azeredo não foi
reeleito, mas deixou rastros de ilegalidades na trilha dos tucanos.
Até hoje homens e mulheres do PSDB não foram investigados e o STF
dorme em berço esplêndido, pois não se tem notícia de quando o
“valerioduto” dos tucanos vai ser, enfim, julgado. Tem um ditado
popular que o Judiciário deste País é destinado a punir e a
prender os três grupos sociais que formam os três Ps (puta, pobre e
preto). A verdade é que pelo andar carruagem os três Ps viraram
quatro — puta, pobre, preto e petista.
É
uma desfaçatez a atuação do procurador-geral, Roberto Gurgel,
aliado da imprensa de tradição golpista e da direita partidária no
que é relativo à perseguição a Lula. Gurgel enviou papéis
concernentes à acusação de Valério de que Lula teria sido
beneficiado pelo dinheiro do “mensalão”, que teria custeado as
despesas pessoais do presidente mais popular da história do Brasil,
a superar, inclusive, o estadista Getúlio Vargas.(Grifo do ContrapontoPIG)
Acontece
que Marcos Valério tem boca, e quem tem boca fala o que quer, do
modo que quiser, ainda mais quando se torna necessário e urgente
salvar a própria pele. O procurador-geral Gurgel, muito cônscio e
zeloso de suas responsabilidades, imediatamente enviou ao procurador
da República em Minas Gerais, Leonardo Melo, as declarações de
Valério publicadas pela imprensa que está aí e se tornou
ferramenta e instrumento de oposição sistemática aos governantes
trabalhistas. O procurador Melo descartou investigar a suposto
envolvimento de Lula com o “mensalão”, e decidiu devolver os
papéis para a PGR, em Brasília.
Segundo
a avaliação de Leonardo Melo, as declarações de Valério sobre
Lula em nada acrescentam às apurações realizadas em Minas Gerais,
bem como às ações que tramitam na Justiça Federal no estado
mineiro. A verdade é que Valério quer diminuir sua pena e por causa
disso negocia com a PGR do Gurgel uma saída menos dolorosa para seu
caso. Envolver Lula beneficia a todos que o combatem fora das urnas.
O PSDB e seus aliados de direita, a exemplo da imprensa de mercado,
de Roberto Gurgel, da subprocuradora, Cláudio Sampaio, da
subprocuradora Sandra Cureau, além de juízes nitidamente
conservadores nas pessoas de Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Marco
Aurélio de Mello e Luiz Fux, entre outros, que tem lado, ideologia e
tomam partido, preferencialmente à direita.
As
acusações de Marcos Valério não são substanciais, bem como não
existem provas no que é relativo ao ex-presidente Lula. São
meramente palavras que visam a desconstrução e a desqualificação
de um político de esquerda, que revolucionou a sociedade brasileira
e elevou o Brasil a patamares nunca visto antes em termos
internacionais. Uma revolução silenciosa, realizada em um governo
vocacionado para a democracia, que nunca bateu em trabalhador, além
de melhorar as condições de vida dos pobres e da classe média. É
visível. Só não enxerga quem não quer ou, simplesmente, faz
oposição aos trabalhistas, mesmo a ser beneficiado. É a questão
da ideologia.
Os
ataques levianos a Lula são um acinte, um deboche à inteligência
alheia e uma provocação de fundo e interesse político, que poderá
levar o político petista às ruas. Lula não tem mandato. Ele é
ex-presidente, mas é atacado pela imprensa e pelos partidos de
direita diuturnamente. Interessa ao establishment manter Lula na alça
de mira, mesmo se não forem comprovadas as acusações contra o
líder trabalhista. Desconstruí-lo é a estratégia, porque a
direita sabe que o Lula nas ruas, mas praças e nos palanques
eletrônicos da televisão, do rádio e da blogosfera progressista é
no momento um político imbatível. A verdade é que não há provas
contra o Lula, mas manter o caso em evidência é uma forma de
combatê-lo. A direita fez exatamente essa ação quando Getúlio
Vargas estava fora do poder, em sua estância em São Borja, no Rio
Grande do Sul — o berço do trabalhismo brasileiro.
Lula
não vai ficar dentro da sua casa, em São Bernardo (SP), de braços
cruzados, a ver sua imolação e a desmoralização moral de sua
pessoa. Não é do seu temperamento. Getúlio se matou por causa
disso. João Goulart sofreu um golpe de estado e só voltou para o
Brasil para ser sepultado. Lula vai às ruas se perceber que a
direita partidária, midiática e judiciária enveredar por caminhos
antidemocráticos, e, por conseguinte, golpistas. Lula conhece a
nossa história e os maus propósitos de uma “elite” herdeira da
escravidão. Lula não vai ser emparedado por uma imprensa alienígena
e entreguista, sem qualquer compromisso com o Brasil e que fomenta
todo tipo de bandidagem por intermédio de suas manchetes
irresponsáveis e nitidamente oposicionistas. O lugar de Lula é nas
rua, junto ao povo, que não vai tolerar golpes. As Caravanas da
Cidadania são estratégicas e solução de apoio e proteção.
A
direita está desesperada, principalmente a midiática tucana, que em
quase 20 anos no poder em São Paulo se tornou o destino de R$ 2,4
bilhões, apenas nos últimos dez anos. Como se observa, o
contribuinte paulista sustentou a imprensa corporativa, que deixou de
fazer jornalismo e passou a atuar como assessoria de imprensa,
verdadeira chapa branca. Por isto e por causa disto, os políticos, a
exemplo de FHC — o Neoliberal —, José Serra, Gilberto Kassab e
Geraldo Alckmin têm tanta ascendência sobre a imprensa, bem como
influenciam em suas pautas.
O
valor de R$ 2,4 bilhões não é qualquer troco. É um dinheiro de
respeito e que é destinado a manter a máquina de propaganda tucana,
além de servir também de “canhão” para desmoralizar e
desqualificar os adversários dos tucanos tratados como inimigos,
como ocorre, sem sombra de dúvida, há mais de dez anos com os
presidentes trabalhistas, alvos de todo tipo de ataques e denúncias,
muitas delas vazias. A imprensa comercial e privada depende do
dinheiro do estado bandeirante, como os seres vivos necessitam de
oxigênio para viver. Depois, na maior cara de pau, esse mesmo setor
midiático fala em iniciativa privada, como se não fosse sustentado
pelo dinheiro público. Durma-se com um barulho desse. A mídia
hegemônica tem de ser desprivatizada e parar de tratar os leitores
como idiotas.
Voltemos
ao Marcos Valério. O procurador mineiro devolveu os documentos para
Brasília. Contudo, um inquérito foi aberto na Polícia Federal.
Leonardo Melo solicitou o rastreamento dos pagamentos feito pelo
Valério. A apuração desses fatos é anterior ao depoimento do
empresário de origem tucana. O processo em princípio não envolve o
ex-presidente Lula. Além disso, o PT pode pressionar Lula para ser
candidato a presidente, se ficar claro que a direita e seus órgãos
de ação, como o STF e a PGR, insistirem em judicializar o processo
político e eleitoral. O petista ainda pode ser candidato ao governo
de São Paulo e, consequentemente, se vencer as eleições, colocar
um pá de cal no túmulo de PSDB e no rico dinheirão que a mídia
golpista tem acesso a quase 20 anos. Enfim, Lula tem as ruas e a elas
deverá ir se se sentir acuado ou desrespeitado em sua cidadania.
Golpe nunca mais!
Na
minha opinião, Lula deveria ser indicado para receber o Prêmio
Nobel da Paz, razão pela qual, no decorrer de seus dois governos,
ter incluído dezenas de milhões de pessoas no que é referente à
cidadania, bem como seu trabalho de integração entre as nações
que geograficamente ocupam o Sul do planeta. Seu trabalho na América
Latina, na África e na Ásia é reconhecido pela comunidade
internacional, mas, em contrapartida, é solenemente e cinicamente
“esquecido” pela imprensa corporativa, que, se pudesse, o
silenciava, como o fez com Leonel Brizola durante os 15 anos que
ficou no exílio.
O
presidente dos EUA, Barack Obama, mal assumiu o poder e recebeu o
Prêmio Nobel da Paz, para logo depois apoiar a invasão da Líbia e
o assassinato de Muammar Kadhafi por parte da OTAN, além de ter
soldados espalhados pelo mundo, a darem continuidade a uma diplomacia
de porrete, que se baseia na intimidação e na violência bélica
pura e simples. A premiação de Obama desmoralizou tal prêmio e
deixou a academia sueca, que ridiculamente se comportou com
subserviência, em maus lençóis, no que diz respeito à sua
credibilidade. Se Lula ganhasse o Nobel, a direita escravagista,
brega, provinciana e colonizada brasileira cortaria seus próprios
pulsos, com navalha cega e enferrujada para doer mais.
É isso aí.
.
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