15/12/2016
Pode ser a gota d´água: amanhã será outro dia!, por J. Carlos de Assis
Movimento Brasil Agora
Pode ser a gota d´água: amanhã será outro dia!
Por J. Carlos de Assis
Foi
a gota d´água. Depois da aprovação sob pressão do Governo da PEC da
Morte, e da tentativa de aprovar a toque de caixa na Câmara a chamada
reforma da previdência, configurou-se a definitiva ruptura entre a dupla
Temer/Meirelles e o povo brasileiro. Agora só resta empurrar ambos
ladeira abaixo lhes cabendo apenas, nesse que promete ser o fim do
festim do capital financeiro especulativo, recorrerem ao amparo pelos
seus patrões banqueiros, estes com os quais a Nação também em breve
fará um acerto de contas.
Como
observa o senador Roberto Requião, temos sido até aqui, já há muito
tempo mas de forma acentuada no governo de Michel Temer, servos do
dinheiro ou, como diz a Bíblia, servos de Mamon. O Brasil não se
reerguerá da crise profunda em que se encontra, mesmo porque a essência
dessa crise está sendo forjada pelo próprio Governo, sem implantar em
caráter de urgência um plano econômico de emergência que reverta em
questão não de meses, mas de dias, a situação dramática em que se
encontra.
É
claro que não pode haver plano de emergência aplicado pelos próceres do
Governo atual. Eles o desfigurariam e o venderiam à Febraban, como
fizeram com leis e medidas provisórias vendidas a empreiteiros e outros
grupos de interesse, confessadamente, nas delações da Odebrecht. O
problema já não é mais quando Temer deve sair, mas como deve sair. E,
sobretudo, como encaminhar a sucessão. Os atuais presidentes da Câmara e
do Senado são suspeitos. Não podem conduzir um processo de eleições
diretas.
Para
que o poder da República não caia nas mãos de uma autoridade não
eleita, como é o caso da ministra Carmen Lúcia, é fundamental que Senado
e Câmara, em regime de urgência, antecipem as eleições dos presidentes
do Congresso. Eles então convocariam eleições gerais em três meses, para
reestruturar completamente a superestrutura política brasileira,
estabelecendo também previamente uma legislação eleitoral que
compatibilize democracia com as necessidades materiais e morais da
Nação.
No
Senado, a meu ver, há nomes dignos para assumir a presidência da Casa,
mas nenhum como o senador Roberto Requião, que reúne lealdade não
corporativa, coragem e competência específica em economia. Na Câmara há a
jovem liderança de Leonardo Quintão, vice líder do PMDB, que tem na
biografia o ativo de ter sido derrotado para a liderança por Eduardo
Cunha. Esses dois líderes poderiam reger a transição, conjuntamente, a
partir de um plano econômico que o senador Requião já anunciou
publicamente como sugestão ao Governo – e que foi felizmente ignorado,
pois caso contrário o Governo o teria negociado.
Obviamente,
as sugestões ideais que faço, na qualidade de cidadão, só se justificam
como algo realizável em face da gravidade da crise. Que os pusilânimes e
os distraídos – não os corruptos, estes não tem salvação – tragam na
mente a imagem da marginalidade armada descendo dos morros e das
periferias do Rio de Janeiro e de São Paulo para dar cobertura aos
miseráveis criados pelo Governo Temer em assaltos a supermercados. Não
pensem que as poltronas do Senado são uma zona de conforto. Na convulsão
social iminente, pessoas e famílias correm riscos. Inclusive aqueles
que discutem o sexo do anjo enquanto as muralhas de Constantinopla são
postas abaixo.
Tendo
participado da elaboração do plano sugerido pelo senador Requião, tomo a
liberdade de indicar suas linhas gerais, ancoradas inteiramente no New
Deal e no Novo Plano alemão dos anos 30: 1) retomada imediata de
investimentos públicos para a recuperação da Petrobrás e da cadeia do
petróleo, anulando a recente privatização retalhada da empresa; 2)
retomada também imediata dos investimentos públicos em logística e em
construção habitacional com projetos já definidos; 3) anulação das
dívidas dos Estados junto ao Governo Federal, condicionado a
investimentos de infraestrutura e serviços públicos essenciais.
É
claro que há muito mais, mas isto é a essência. Tendo em vista o
terrorismo que os servidores de Mamon fizeram com a questão do déficit e
da dívida pública, convém explicar aos que tem boa fé que, em
depressão, o déficit público não é apenas tolerável, mas absolutamente
necessário para a recuperação da economia. Quanto ao eventual impacto da
retomada do crescimento no balanço de pagamentos, podemos utilizar o
imenso volume de cerca de 370 bilhões de dólares que temos em reservas.
Claro, podemos fazer tudo isso. Mas jamais poderíamos continuar pondo
esse dinheiro todo nas mãos de Temer e de Meirelles.
José Carlos de Assis é economista, doutor em Engenharia de
Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor de
Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba e autor de
mais de 20 livros sobre economia política
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