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06/04/2013
Lula e Mujica afirmam que monopólios de mídia são “negação da democracia”
Da Revista Forum - 05/04/2013 10:56 am
Os dois participaram de debate com lideranças sindicais promovido pela CSA e pela FES em Montevidéu
Por Leonardo Wexell Severo e Isaías Dalle, de Montevidéu
“No mundo inteiro, os líderes políticos reclamam dos meios de comunicação. Eu já ouvi o Obama reclamando, a [Angela]
Merkel, e dirigentes de vários países. Esse é um tema muito delicado e
penso que nós não devemos ter monopólios de mídia no Brasil, onde poucas
famílias mandam no setor. Isso é contra a democracia que, para mim, não
é uma coisa menor. A democracia é a única razão de ser e a única
maneira de um governo de esquerda implementar as mudanças necessárias.”
A
declaração acima foi feita pelo ex-presidente Lula na noite desta
quinta-feira, na sede do Parlamento do Mercosul, em Montevidéu, no
debate entre lideranças políticas e sindicais “Transformações em risco?
Perspectivas e tensões do progressismo na América Latina”, realizado
pela Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das
Américas (CSA), com o apoio da Fundação Friedrich Ebert (FES).
O
presidente uruguaio, José “Pepe” Mujica, comparou o “despotismo” da
ditadura militar com o comportamento dos grandes conglomerados de
comunicação e defendeu “mecanismos de regulação” que garantam a
diversidade de opiniões. Hoje, condenou, “a liberdade de imprensa tem de
passar pelo olho da fechadura de um sistema empresarial muito
estreito”. Na verdade, esclareceu, em vez de liberdade de imprensa o que
há é liberdade de empresa, havendo uma manipulação “do peso conceitual
aparente, através de posições políticas e filosóficas conservadoras”.
O
tema da democratização dos meios de comunicação foi introduzido no
debate pelo secretário geral da CSA, Victor Báez, o primeiro a responder
à pergunta do mediador, o historiador Gerardo Caetano, sobre os
desafios mais imediatos da América Latina para consolidar e avançar a
democracia e o combate à desigualdade. “Nós do movimento sindical
notamos que toda vez que a imprensa noticia algum tema de cunho social, a
matéria vem cheia de preconceito e críticas ao processo de inclusão”,
declarou Victor.
Combate à desigualdade
Ainda
que apontando alguns dos inúmeros avanços obtidos do ponto de vista
econômico e social na última década, o moderador lembrou que a região
continua apresentando a terceira maior desigualdade de renda do planeta e
questionou os debatedores sobre quais as medidas a serem adotadas
frente à tamanha adversidade.
Lula
respondeu que a primeira ação é o povo continuar elegendo governos
democrático-populares, “pois não se consegue mudar em 10 anos toda uma
herança de desmandos, mas é possível que um governo conservador
retroceda do dia para a noite”. “Em vários dos nossos países da América
Latina conseguimos reafirmar o Estado como um polo de desenvolvimento.
Conseguimos acabar com a ideia que o Estado não servia, não prestava, e
que o mercado, que só atua onde tem lucro, é quem tinha as soluções. Mas
o que vimos na Europa é que o deus mercado faliu e quem teve de
socorrer foi o pobre diabo do Estado”, advertiu.
O
presidente uruguaio disse acreditar na capacidade essencialmente
renovadora da democracia, que ventila o ambiente e traz elementos
rejuvenescidos a cada tempo. “Esse exercício efetivo, real da
democracia, fortalece a participação popular e supre os erros que,
inevitavelmente, serão cometidos por quem governa”, acrescentou.
Ao
comentar o combate à desigualdade, Victor Báez propôs: “Os países têm
de criar impostos sobre os mais ricos. Só vai acabar com a desigualdade e
pobreza quem diminuir a concentração de renda”. Mais adiante, o
secretário geral da CSA também lembrou que os países da região que mais
avançaram no combate à desigualdade são aqueles em que a maioria dos
trabalhadores é protegida por acordos coletivos celebrados por
organizações sindicais.
Integração
A
necessidade de continuar e fortalecer o processo de integração,
principalmente via o Mercosul, foi apontado como uma das formas de
enfrentar as assimetrias e reduzir os impactos negativos da crise dos
países capitalistas centrais. Os três debatedores concordaram que essa
integração, no entanto, não deve se limitar às trocas comerciais, mas
que deve priorizar igualmente a valorização do trabalho.
“Acho
que daqui há 15 anos seremos o continente mais invejado do mundo,
porque somos detentores de recursos de caráter estratégico, com
abundância de água, por exemplo,
com imensas potencialidades que agora começam a se tornar realidade”,
comentou Mujica, ao fazer um prognóstico do futuro da região.
Victor
Báez também afirmou sua crença num futuro promissor, desde que a
esquerda e as forças progressistas promovam uma “centrifugação
política”, em que a solidariedade volte a ser um valor essencial.
Encerrando
a noite, Lula reiterou seu otimismo em relação ao Continente e às
decisões coletivas que devem ser implementadas, sintetizando nossa
perspectiva de futuro com uma metáfora: “Quem comeu carne pela primeira
vez dificilmente vai se acostumar a comer sem carne. Não há nada que
faça a América Latina retroceder. Que se cuide quem quiser ser governo,
pois o povo aprendeu a conquistar as coisas”.
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