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14/09/2013
Chicana de Joaquim Barbosa - mensalão como trunfo da imprensa e do PSDB
Por Davis Sena Filho
A
AP 470 é um processo longo e complexo, que é usado de forma política
por juízes, promotores, políticos e pela imprensa de mercado. A chicana,
quem diria, veio do condestável juiz e presidente do STF, Joaquim
Barbosa. Ao perceber que o juiz decano Celso de Mello estaria pronto
para votar e desempatar o "jogo" a favor da admissibilidade dos embargos
infringentes (recursos cabíveis contra acórdãos não unânimes proferidos
pelo Tribunal) encaminhados pelos advogados de defesa de 11 acusados,
JB não se fez de rogado e adiou a sessão e o voto do decano para o dia
18 de setembro.
Nada
como um dia após o outro — reza o ditado popular —, pois salutar se
torna lembrar que o juiz Ricardo Lewandowski foi acusado por Joaquim
Barbosa de fazer chicana, com a finalidade de prolongar o processo do
mensalão. A verdade é que Lewandowski estava apenas a realizar a leitura
de sua revisão quanto aos processos relatados pelo relator do caso no
STF, o juiz Joaquim Barbosa, presidente da mais importante Corte do
Poder Judiciário deste País.
Lewandowski
se sentiu desrespeitado, e reagiu com indignação ao furor tão comum ao
presidente do STF. JB tem se mostrado um homem nervoso, agressivo e
useiro e vezeiro em tratar com desdém, ferocidade e autoritarismo as
pessoas que ele considere não estarem de acordo com a sua maneira de
pensar e interpretar os códigos do Direito, as leis do País, a
Constituição e o regimento interno do Supremo.
O
magistrado dá a impressão ainda que os fatos, as realidades e as causas
que envolvem seriamente as pessoas e que porventura tenham que passar
pelo seu crivo são apenas meros acontecimentos originados dos autos de
inquéritos repassados pela Procuradoria Geral da República. Entretanto, o
processo mexe profundamente com as vidas dos cidadãos acusados de
cometer crimes como formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e
corrupção ativa. Esses fatos não podem ser tratados por um tribunal de
um estado democrático de direito com interesse político e partidário e
muito menos midiático.
Marco
Aurélio de Mello, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Carmem Lúcia e Joaquim
Barbosa se comportaram como um time de futebol que ao perceber que vai
perder resolve fazer catimba e "melar" o jogo. O decano Celso de Mello
disse que daria seu voto em cinco minutos sobre a questão da aceitação
ou não dos embargos infringentes, que constam no regimento interno do
STF e que tem força de lei, além de prever a possibilidade de condenados
pelo Supremo recorram da decisão quando houver pelo menos quatro votos
pela absolvição.
Celso
de Mello disse em 2012 que era favorável aos embargos infringentes. Sua
opinião consta em vídeos que circulam pela internet, bem como foi
veiculada nos jornais televisivos e na mídia impressa. Sabedores dos
votos favoráveis dos juízes Ricardo Lewandowski, Roberto Barroso, Dias
Toffoli, Rosa Weber e Teori Zavascki, além de Celso de Mello aos
embargos infringentes, o juiz Marco Aurélio leu o seu longo voto e
depois passou a polemizar com o juiz Barroso, de forma açodada e até
mesmo desdenhosa ao chamá-lo de "novato".
Joaquim
Barbosa encerrou a sessão e deu como argumento a seguinte pérola ou
chicana: "O ministro Celso de Mello disse que já tem seu voto pronto,
mas como três ministros já se ausentaram por conta da sessão no TSE,
declaro esta sessão encerrada". Volto a lembrar: Celso de Mello disse
que pronunciaria seu voto em cinco minutos, e mesmo assim o juiz JB não
lhe deu ouvidos e adiou a votação, que daria um placar de 6 a 5 para os
magistrados favoráveis aos embargos infringentes, ou seja, a um novo
julgamento de 11 dos acusados, conforme o regimento interno do STF.
Joaquim
Barbosa prolongou o julgamento e não ouviu ninguém da imprensa
inquisidora a chamá-lo de chicaneiro ou de usar seu cargo de presidente
do STF a favor de pressões vindas da mídia de negócios privados, que
quer porque quer a prisão dos envolvidos com o "mensalão". JB deu a
oportunidade de a imprensa corporativa pressionar durante quase uma
semana o decano Celso de Mello para que ele mude seu voto e opinião, bem
como sua consciência no que concerne aos embargos infringentes dos
quais é favorável.
Ora
meça! Os réus têm direito ao contraditório e ao amplo direito de
defesa. Ser acusado por meio de provas tênues como disse certa vez o
ex-procurador Roberto Gurgel a respeito do ex-ministro José Dirceu é a
desfaçatez em toda sua essência e amplitude. Ressalta-se ainda que
julgar alguém pelo cargo que ocupou e supostamente por estar em tal
posição ser obrigado a saber o que está acontecer em seus pormenores é
um absurdo. Provas têm de ser colhidas, comprovadas e de forma
inquestionável e absoluta, porque senão o julgamento se torna julgamento
à moda Torquemada.
Os
juízes conservadores do STF e que estão a fazer política partidária e
ideológica há quase dez anos cometeram chicana e jogaram o decano Celso
de Mello às aves de rapina da mídia comercial e privada, que,
sistematicamente, tenta pautar o Governo Federal e as instituições
republicanas, ao tempo que faz política no lugar dos derrotados PSDB,
DEM e PPS. Joaquim Barbosa, Marco Aurélio de Mello e Gilmar Mendes,
principalmente estes, são juízes que demonstraram, inequivocamente, seus
compromissos com o lado reacionário dos conservadores deste País.
São
inúmeros os atos e ações desses juízes em prol dos interesses do campo
da direita brasileira. O voto de Gilmar Mendes, por exemplo, foi um
jogral de ataques políticos ao PT. Com voz altissonante, tal juiz de
ações jurídicas e pessoais bastante questionáveis atacou um partido como
se a maior agremiação política deste País e que mudou o Brasil em
apenas 11 anos fosse composta por bandidos. Quando um juiz de direita,
de conduta pessoal e profissional fortemente questionada por parte da
sociedade se comporta dessa maneira é porque ele não respeita os milhões
de cidadãos brasileiros que votaram no PT e nos seus aliados.
Gilmar
Mendes é assíduo frequentador de lugares públicos e privados onde
circulam políticos tucanos e do DEM. Participa, inclusive, de reuniões
sociais, de lançamentos de livros de ataques políticos e pessoais ao
ex-presidente Lula, ao PT, ao José Dirceu, o que, indubitavelmente, não
condiz com o cargo que ocupa, pois ele é um dos juízes que julgam o
"mensalão". Todavia, este juiz autoritário e direitista não foi ao
lançamento dos livros "A Privataria Tucana" e o "Príncipe da
Privataria".
É
público e notório seu preconceito pelo Partido dos Trabalhadores e por
todo e qualquer movimento social e popular. Como também são bastante
conhecidos seus habeas corpus concedidos ao banqueiro Daniel Dantas e ao
médico Roger Abdelmassih, dentre muitos outros casos polêmicos e,
irrefragavelmente, questionáveis pela sociedade brasileira e pelo mundo
jurídico.
Gilmar
Mendes passou a semana a ir ao gabinete do ministro Celso de Mello para
tentar convencê-lo a votar contra o direito de os réus em ter ampla
defesa, por intermédio também dos embargos infringentes. Tal juiz nunca
se comportou como juiz, mas, evidentemente, como político tucano, ligado
ao PSDB e nomeado pelo ex-presidente FHC — o Neoliberal I — que neste
momento faz pressão para que o juiz Celso de Mello não vote a favor de
conceder o direito aos embargos infringentes.
Somente
um cidadão pateta, mesmo se fosse conservador, não perceberia que o
"mensalão" é um processo e julgamento político. A mídia e os partidos de
direita e a classe média coxinha e reacionária precisam da condenação
de José Dirceu, de José Genoíno e de Delúbio Soares como os seres vivos
necessitam de ar para viver. As eleições de 2014 vêm aí, e os
adversários da direita são Dilma Rousseff e Lula, duas lideranças do PT
muito fortes eleitoralmente. É preciso virar o jogo, e por isto não é à
toa que Celso de Mello vai ficar uma semana sob pressão da mídia,
principalmente das revistas Época, da família Marinho, e Veja, da
família Civita.
Os
tucanos nunca precisaram tanto de condenações para politicamente se
fortalecer. Por sua vez, esquecem de seus golpes e falcatruas,
escândalos e compra de votos, da Siemens e da Alstom — do mensalão
tucano. Eles se arvoram de paladinos da justiça, da moral e dos bons
costumes, mas se elencarmos seus escândalos e incompetências e
colocarmos no papel, tais incongruências são materiais para a publicação
de um livro grosso como um dicionário.
Merval
Pereira, por exemplo, simboliza todo o ardor e desejo tucanos para
prender petistas. O colunista de direita é autorizado pelos irmãos
Marinho a ser suas vozes. Porém, perdeu o rumo e o prumo. Se os réus do
"mensalão" puderem recorrer aos embargos infringentes, Merval é capaz de
cortar os pulsos, não tanto por indignação, mas, sobretudo, por saber
que neste País a Constituição e o estado democrático de direito ainda
são respeitados. O que resta agora é esperar, no dia 18 de setembro, o
voto do juiz severo e garantista Celso de Mello. É isso aí.
.
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