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23/11/2015
A sociedade negativa
Brasil 247 - 23 de Novembro de 2015
Lula Miranda
Sociedade negativa é aquela que, aparentemente perdida, sem rumo, norteia-se, em suas ações e princípios, pela negação de valores morais e éticos consagrados como positivos.
Considerando-se aqui, apenas para efeito de análise, que são considerados como positivos valores morais e éticos fundados no humanismo e em ideais progressistas, e lastreados em valores como justiça, solidariedade, amor ao próximo e respeito à diversidade, por exemplo.
Portanto, ocorre, na sociedade negativa, uma inversão de valores. O que é bom passa a ser ruim; o mal passa a ser confundido com o bem (vide a disseminação do crime organizado e o terrorismo); o pecador assume o papel do virtuoso.
Na sociedade negativa, bandidos são considerados heróis; heróis são considerados bandidos. Criminosos alcaguetas são premiados pela Justiça e chamados de “heróis” por supostos “homens de bem”.
Na sociedade negativa, ladrões e estelionatários são tratados como “bispos” e “pastores” – e, veja bem, até exibem o seu cinismo de fé em programas na TV, em horário nobre. Já bispos, pastores, padres, babalorixás e yalorixás, que são verdadeiros líderes espirituais, são perseguidos, ofendidos e até agredidos, quando não condenados ao degredo ou ao “silêncio obsequioso”.
Um exemplo paradigmático: numa sociedade negativa, a defesa da vida, da dignidade e da integridade dos seres humanos é desvalorizada/negligenciada. Em contrapartida, a morte é privilegiada. Nas sociedades negativas, comete-se o absurdo de se defender o indefensável: a pena capital.
O homem perde a sua essência, sua humanidade, quando se torna o lobo do próprio homem.
Cultua-se (e se incentiva) ideais bárbaros, em vez dos ditames civilizatórios.
Na sociedade negativa, bandidos são considerados heróis; heróis são considerados bandidos.
Nesse modelo de sociedade, na qual, infelizmente, convivemos todos, os maus políticos são incensados e protegidos pela grande imprensa; enquanto os bons políticos, os poucos que existem, são vilipendiados, e até, nos estranhos dias que correm, processados pelos Conselhos de Ética.
É o caso do Processo [kafkiano?!] envolvendo os deputados Jean Willys e Ivan Valente (ambos do Psol) e Jandira Feghali (do PCdoB). Um esdrúxulo, bizarro processo, no qual autênticos e virtuosos representantes do povo são colocados sob falsa suspeição/acusação e investigados. Ao passo que notórios corruptos são protegidos, laureados e até emprestam seus nomes a ruas, viadutos e escolas públicas.
Que ética é essa?!
Na sociedade negativa, o honesto é o otário; o corrupto, o “esperto”; o aético, ético. E o suposto cristão nutre-se do ódio e da intolerância.
Reza a lei não escrita e inscrita em tortas linhas: o negócio é levar vantagem em tudo; certo?
Errado!
E é preciso que alguém tenha moral para desdizer o axioma acintoso.
E dizer, com todas as letras: NÃO, está ERRADO.
Afinal, que moral tem uma sociedade como esta?!Para que espécie de futuro, de (des)caminho nos conduzirá?
Assim é a sociedade negativa: onde o certo é errado; e o errado, o certo.
Onde se trocam os termos, invertem-se os valores, a troco de nada.
Onde os amorais são/estão “cheios de moral”.
Lula Miranda. Poeta, cronista e economista. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa e Fazendo Média
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