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28/11/2015
Em cena, a covardia
por Mino Carta, na Carta Capital
Faz duas semanas, em carta publicada na seção competente, um leitor elogiou CartaCapital
ao defini-la como revista de esquerda. Que significa ser de esquerda?
Bom ou mau? As opiniões, como se sabe, divergem, e em um país
maniqueísta como o Brasil divergem absolutamente, embora o significado
exato da palavra tenha perdido a clareza de antanho.
Há mesmo quem diga que o tempo das ideologias acabou de
vez como se fosse possível admitir a inexistência de ideias capazes de
mover as ações humanas. De todo modo, em terra nativa, basta pouco para
ser classificado de esquerda, ou mesmo comunista. Vários requisitos
exigem-se para chegar a tanto, mas dois são determinantes.
Primeiro, denunciar com todas as letras a insuportável desigualdade reinante no País, recordista em má distribuição de renda.
Segundo requisito. Não se acovardar diante da prepotência oligárquica,
tão desbragadamente exercida por meio da mídia nativa, paladina de uma liberdade de imprensa
que não passa de liberdade de propalar impunemente o que interessa aos
patrões, moradores cativos da casa-grande e, portanto, de inventar,
omitir e mentir. Esta é também uma forma de corrupção.
No enredo político em pleno
desenvolvimento no cenário nacional, o papel da covardia é capital, é a
partícula primeva que explode no big-bang. Espero ser entendido ao
acentuar que a encenação é digna de um colossal hollywoodiano, e talvez
fosse oportuno entregar a direção a Cecil B. DeMille. Cinéfilos vetustos
como o acima assinado sabem o que estou a dizer. Vamos, porém, ao
ponto, sem exagerar em esperanças quanto a essa compreensão.
A par da credulidade de muitos leitores,
ouvintes e telespectadores e da benfazeja indiferença da senzala,
preocupada com temas práticos e cotidianos, sobra, com extraordinário
vigor, a covardia de quem haveria de resistir. A começar pelo Supremo
Tribunal Federal. Lembrei-me do meu professor de Direito Penal na
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em uma das cúspides do
chamado Triângulo de uma São Paulo adoravelmente provinciana. Noé
Azevedo, cavalheiro de cabelos brancos, supunha-o parecido com Caronte, o
barqueiro do Styx na versão dantesca, “branco por antigo pelo”.
Ensinava a supremacia do Direito Natural: os fatos merecedores de
julgamento, hão de sê-lo no mesmo local em que se dão.
Aí está o pecado original, imperdoável, da Lava Jato. Escudado pela polícia curitibana,Sergio Moro
manda às favas o Direito Natural. Os ministros do STF não foram alunos
do professor Noé, está claro, e talvez nem saibam dele. Poderiam,
contudo, ter consciência das suas responsabilidades. No entanto, diante
do desmando e de muito outros cometidos na república jurídico-policial
de Curitiba, se acovardam.
Divididos nos sentimentos e nos humores,
os senhores ministros de uma justiça desvendada, curvam-se aos pés da
arrogância midiática. Apavoram-se com a reação, impressa, radiofônica e
televisada, a qualquer tentativa de recolocar a situação nos trilhos da
lei, sem deixar de apreciar referências gaudiosas às suas pessoas, uma
foto aqui, uma nota favorável , ou mesmo uma entrevista, acolá. A
citação empolga e compensa o medo.
O mesmo gênero de temor atinge o próprio
governo, acuado e até hoje incapaz de inaugurar o segundo mandato de
Dilma Rousseff, tão bem representado na sua inércia aturdida por um
ministro da Justiça inexoravelmente inepto. Aceita-se a afirmação da
prioridade do combate à corrupção, enquanto demole-se o Estado de
Direito.
E as bancadas petistas do Congresso e os
parlamentares da dita base aliada? Acovardados, alguns à sombra da
espada de Dâmocles, outros por que simplesmente tementes à mídia em
lugar de Deus, possivelmente alheado como de hábito das misérias
humanas. Se algum dia o Brasil foi um Estado de Direito a despeito da
presença inesgotável da casa-grande e da senzala, deixa de sê-lo agora
debaixo dos golpes das manchetes.
Observa um velho amigo ao me visitar no
meio da tarde melancólica: tínhamos um salvador da pátria, chamava-se
Joaquim Barbosa, de um tempo para cá tomou-lhe o lugar Sergio Moro. Nada
mais simbólico do que a homenagem que lhe fez a Aner, contada nesta
edição por Nirlando Beirão na página 30. O herói de camisa preta,
adequada a mostrar antes a vaidade do que a identificação ideológica,
conforme o editor de CartaCapital. Permito-me observar que o preto também é próprio do coveiro.
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Olá! Um ótimo Domingo a todos os leitores... Que maravilha!!! Grata surpresa degustarmos de um Texto tão Doce, Poético até, enquanto, concomitantemente Ácido e Crítico, mas, sobretudo, primorosamente redigido...
ResponderExcluir¨Tudo¨ esta ali contemplado... Um autêntico instantâneo de nossa triste realidade...
Pena que, á maioria de nossa sociedade coxinha (principalmente paulistana) e a nossa ¨???Grande??? Imprensa (PIG), serão ¨Apenas Pérolas¨...