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28/11/2015
O capitalismo de compadrio no Brasil e em outros países
Por André Araújo
O CAPITALISMO QUE TEMOS - O prezado comentarista J.C. Pompeu, a propósito de meu post de ontem
sobre a Lava Jato travando a economia, disse que eu aqui defendo o
"capitalismo arcaico brasileiro". Pode ser, mas é o capitalismo que
temos, não há outro na prateleira para por no lugar.
Um dos defeitos profundos do caráter
brasileiro é subestimar o País, nossas coisas e nossas realizações. Tudo
lá fora é melhor, segundo essa visão tão arraigada entre brasileiros,
especialmente de São Paulo.
É um grave erro de avaliação. O
"capitalismo de compadrio" de fato existe no Brasil. Mas existe em MUITO
MAIOR escala na China, na Índia, em toda a Ásia, na Rússia, no Oriente
Médio, no México, em toda a América Latina.
Existe também com outra roupagem nos
Estados Unidos. A diferença lá é a clareza, a explicitude das relações
entre empresas e governo, nada é escondido, tudo é a luz do dia, mas as
relações do Estado com as empresas não diferem muito do que ocorre aqui.
As grandes companhias de armamentos tem fantásticos lobbies em
Washington para influenciar o Congresso a alocar verbas no orçamento
para seus projetos de novas armas, as doações de campanha são de bilhões
mas é tudo legal, usam o modelo do Political Action Committees, onde se
doa para comitês pró-causas, sem vincular com candidatos, mas esse
dinheiro acaba bancando campanhas que beneficiam um determinado
candidato que apoia aquela causa, o valor que as empresas podem doar não
tem limite.
O capitalismo só funciona em boas
relações com o Poder, não há capitalismo neutro e limpinho em nenhum
lugar do planeta, nós não somos tão arcaicos, talvez mais provincianos,
com roupa caipira, mas os métodos não mudam muito e tem lugares onde as
coisas são muito piores, como na China e na Rússia, o poder do Estado e o
poder das grandes corporações se confundem, a mesma coisa na Coreia do
Sul, no Japão é mais sutil mas os grupos "pesados" Mitsui, Mitsubishi,
Fuji, Sumitomo, Toyota, tem relações profundas com o MITI, o Ministério
do Comércio Exterior japonês, operam em conjunto.
Na França a promiscuidade entre Estado e
capitalismo é total há séculos, a moda é coordenada pelo Comité
Colbert, o armemento é coordenado pela DGA do Ministério da Defesa. Na
Inglaterra, em um passado não tão longínquo a Royal Navy era cobradora
dos bancos ingleses, os navios da esquadra apontavam canhões para
resgatar dívidas, como fizeram em Alexandria em 1882 e na Venezuela no
começo do Século XX. Não fazem mais isso mas o espírito é esse, o
governo ajuda as empresas sempre, porque as empresas são consideradas
socias do Estado e sustentáculo da Nação.
Somos inferiores, sim, em reconhecer o
interesse nacional a ponto de queimar numa fogueira da inquisição
empresas brasileiras de projeção internacional e agora o maior banco de
investimento dos BRICS, o BTG Pactual, que se preparava para resgatar
com fundos do banco oficial japonês de fomento o programa de sondas para
o pré-sal, o Brasil receberia do Japão mais de US$6 bilhões de dinheiro
novo, projeto que levou um ano para preparar, liquidado com a prisão do
CEO do banco, sob aplausos da Globo e do Senado brasileiro, suicidas de
vocação, esquecendo que quando afunda o navio morrem os marinheiros e
também o comandante. Arcaicos são os justiceiros que destroçaram ativos
de valor incalculável, o maior dos quais é a imagem do País e de suas
empresas no exterior, colocar a sujeira na janela não melhora a
reputação da família.
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