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20/09/2016
A narrativa do golpe em movimentos bem marcados, por Joseph
A narrativa do golpe em movimentos bem marcados
Por Joseph
Comentário ao post “Xadrez do não tempos provas, mas temos convicção”
Contrariando a minha proverbial moderação, e porque o blogueiro não parece ter atentado para a importância do que vou expor, peço licença para fazer um último apelo para chamar a atenção para a questão mais importante do momento, no meu entender.
Quem sabe alguma boa alma, com espaço na imprensa, possa se começar a convencer-se do que eu já estou convencido.
Não é um xadrez, mas talvez seja útil dividir a narrativa em "movimentos".
1. Léo Pinheiro é o protagonista de uma das delações mais demoradas e, segundo as notícias, mais conturbadas de todo o processo da Lava Jato, com denúncias de pressão, recuos, reviravoltas, resistências.
2. Depois de muito tempo, a Veja publica o que seria um fragmento dessa delação, envolvendo um ministro do Supremo. Há grita, o Supremo reage, e a delação é “cancelada” pela PGR.
3. Na semana seguinte, a mesma revista publica outros pedaços da delação, envolvendo Aécio e Serra, sim, mas também Lula – a quem serviria certamente para garantir uma condenação de uns 50 anos de cadeia para o ex-presidente (ao menos no tribunal do Serginho).
4. Pouco tempo depois do cancelamento – e as razões para ele são bem menos importantes do que parecem ao Nassif – Léo Pinheiro é preso de novo. Uma prisão estranhíssima, baseada num requerimento datado de março.
Ainda mais estranhamente, Léo Pinheiro não reclama. Nada diz contra a flagrante arbitrariedade que lhe atinge e, pelo contrário, se apressa em se dispor a um depoimento ao juiz.
(Para apreciar, digamos, “expressividade” desse ponto, basta comparar com a atitude de Bumlai, que não parece disposto a delatar, quando Moro, recentemente, lhe colocou de volta na cadeia: tá esperneando até agora).
5. De fato, em questão de dias depois de voltar à custódia, Pinheiro aparece diante de Serginho bastante pilhado, dizendo-se claramente disposto a “confessar todos os seus crimes” não importa a quem eles possam “atingir”.
O recado é claro.
O pessoal achou que ele não quis entregar o Lula. Mas naquele momento ele não podia, pois não era o Lula que estava em questão.
6. Na semana seguinte a esse depoimento, o MPF finalmente faz a denúncia contra Lula e Pinheiro.
Na denúncia, o único elemento objetivo que liga a Petrobras ao Triplex é a suposta existência de uma “conta geral” de propinas ao PT que abasteceria uma “subconta” destinada a pagar vantagens a Lula.
Ora, como publicou hoje a Folha num acesso extemporâneo de jornalismo, e como eu venho dizendo desde a quarta-feira (sim, eu li a denúncia de cabo a rabo!), essa informação não consta de nenhum lugar do processo, mas é exatamente igual à suposta delação vazada e publicada pela Veja.
Bem, você pode perguntar, e daí?
7. Todos os dados ou “movimentos” acima, que não são especulativos, mas estritamente factuais, indicam duas coisas claramente:
A) Foi usada uma informação obtida extraoficialmente, que não são especulativos, fora dos autos, para basear uma peça processual, o que é, em si mesmo, nada mais nada menos do que uma fraude, que coloca o processo como passível de nulidade.
B) Ao contrário do que pensam muitos, que dizem que os procuradores foram patetas e bobinhos, a intenção de colocar essa informação na base da denúncia – obviamente um risco – é claramente “lavá-la” com a sua confirmação por Pinheiro (combinada? Coagida?) quando este apresentar a sua defesa no processo ou, de forma mais simples, quando ele for depor (nesse sentido eu não de onde nasce a confiança de que Pinheiro não delatou ou vai delatar Lula. Lembrem que Delcídio negou até o último instante que havia feito uma delação).
Lembremos que esse modus operandi já foi detectado na Lava Jato. Não faz muito tempo a Carta Capital denunciou que a contadora de Yousseff, Meire Poza, passava informações extraoficialmente para a PF do Paraná, que depois as “lavava” com batidas encenadas.
8. A partir daqui a coisa toda vai se resumir a um jogo de pressões e de versões, e o MPF sabe disso.
É clara e manifesta, a meu ver, a intenção de fazer com o depoimento de Pinheiro o que fizeram com as escutas divulgadas ilegalmente: provoca-se uma explosão na opinião pública – as bombásticas revelações do empreiteiro – para encobrir ou engolir a fraude ligada à obtenção da informação como mera irregularidade ou falha processual, pela qual caberia apenas um pedido de desculpa.
Mas aí, meus amigos, e a força-tarefa sabe disso, o estrago já estará feito.
Ninguém mais poderá conter a destruição de Lula, nem na opinião pública (objetivo imediato) nem mesmo, como mostra o antecedente da escuta, nos tribunais, que certamente não se atreverão a deixar os crimes de Lula passarem impunes.
9. Por tudo isso, eu não consigo entender a inércia do nosso lado em denunciar essa fraude e essa farsa, falando de “falta de provas” a propósito da denúncia da Folha, erra completamente o ponto da questão.
Se os passos – para mim evidentes – dessa fraude não forem antecipados e denunciados (como fez o Eduardo Guimarães, por exemplo, com os grampos no Lula, ou esse blogueiro, no episódio pós-eleitoral do conluio entre Toffolli e Gilmar para rejeitar as contas de Dilma), e a armação entre Moro, MPF e Leo Pinheiro (muito provavelmente) não for desmascarada, não vai adiantar nada gritar quando o que eles têm planejado se realizar.
No momento em que Léo Pinheiro abrir a boca, Lula e a democracia brasileira estarão definitivamente derrotados pelo maior moedor de carne humana que o mundo já viu – o nosso oligopólio da informação.
A meu ver, tem-se não mais do que 7 ou 10 dias para tentar desarmar essa bomba programada. Para desacreditar a manobra e, com elas, a espontaneidade e veracidade das “revelações” de Pinheiro.
É o tempo de Serginho aceitar a denúncia e começar a instrução.
Nassif, o que você está esperando para fazer isso? Provas? Convicção?
Indícios fundados, como mostro acima, existem muitos. Se não anteciparmos alguma coisa importante vai morrer.
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