"Quem se expõe aos meios
de comunicação corre o risco de nada entender, pois só toma contato com
o que pensa um lado. Será majoritária a parcela da opinião pública que
se regozija ao ouvir os líderes conservadores e assistir aos
comentaristas da televisão despejar seu ódio?", questiona Coimbra.
Em sua análise, ele demonstra que os "haters" são em número menor do que muitos imaginam. Leia abaixo:
O tamanho do ódio
Pesquisa recente
do Vox Populi aponta: o eleitorado que diz detestar o PT representa 12%
do total. Não é pouco, mas menos do que muitos imaginam
Nestes tempos em que a
intolerância,
o preconceito e o ódio se tornaram parte de nosso cotidiano político, é
fácil se assustar. É mesmo tão grande quanto parece a onda autoritária
em formação?
Quem se expõe aos meios
de comunicação corre o risco de nada entender, pois só toma contato com o
que pensa um lado. Será majoritária a parcela da opinião pública que se
regozija ao ouvir os líderes conservadores e assistir aos comentaristas
da televisão despejar seu ódio?
Recente pesquisa do Instituto Vox Populi permite responder a algumas dessas perguntas. E seus resultados ensejam otimismo: o
ódio na política atinge um segmento menor do que se poderia imaginar. O Diabo talvez não seja tão feio como se pinta.
Em vez de perguntar a
respeito de simpatias ou antipatias partidárias, na pesquisa foi pedido
aos entrevistados que dissessem se “
detestavam o PT”,
“não gostavam do PT, mas sem detestá-lo”, “eram indiferentes ao
partido”, “gostavam do PT, sem se sentir petistas” ou “sentiam-se
petistas”.
Os resultados indicam:
permanecem fundamentalmente inalteradas as proporções de “petistas” (em
graus diversos), “antipetistas” (mais ou menos hostis ao partido) e
“indiferentes” (os que não são uma coisa ou outra), cada qual com cerca
de um terço do eleitorado. Vinte e cinco anos depois de o PT firmar-se
nacionalmente e apesar de tudo o que aconteceu de lá para cá, pouca
coisa mudou nesse aspecto.
Nessa análise,
interessam-nos aqueles que “detestam o PT”. São 12% do total dos
entrevistados. Esse contingente tem, claro, tamanho significativo. A
existência de cerca de 10% do eleitorado que diz “detestar” um partido
político não é pouco, mas é um número bem menor do que seria esperado se
levarmos em conta a intensidade e a duração da campanha contra a
legenda.
A contraparte dos 12% a
detestar o PT são os quase 90% que não o detestam. Passada quase uma
década de “denúncias” (o “mensalão” como pontapé inicial) e após três
anos de bombardeio antipetista ininterrupto (do “julgamento do mensalão”
a este momento), a vasta maioria da população não parece haver sido
contagiada pelo ódio ao partido.
A pesquisa não perguntou
há quanto tempo quem detesta o PT se sente assim. Mas é razoável supor
que muitos são antipetistas de carteirinha. A proporção de entrevistados
com aversão ao partido é maior entre indivíduos mais velhos, outro
sinal de que é modesto o impacto na sociedade da militância antipetista
da mídia.
Como seria de esperar, o
ódio ao PT não se distribui de maneira homogênea. Em termos regionais,
atinge o ápice no Sul (onde alcança 17%) e o mínimo no Nordeste (onde é
de 8%). É maior nas capitais (no patamar de 17%) que no interior (4% em
áreas rurais). É ligeiramente mais comum entre homens (14%) que mulheres
(10%). Detestam a legenda 20% dos entrevistados com renda familiar
maior que cinco salários mínimos, quase três vezes mais que entre quem
ganha até dois salários. É a diferença mais dilatada apontada pela
pesquisa, o que sugere que esse ódio tem um real componente de classe.
Na pesquisa, o recorte
mais antipetista é formado pelo eleitorado de renda elevada das capitais
do Sudeste. E o que menos odeia o PT é o dos eleitores de renda baixa
de municípios menores do Nordeste. No primeiro, 21% dos entrevistados,
em média, detestam o PT. No segundo, a proporção cai para 6%.
Não vamos de 0 a 100% em
nenhuma parte. A sociologia, portanto, não explica tudo: não há lugares
onde todos detestam o PT ou lugares onde todos são petistas, por mais
determinantes que possam ser as condições socioeconômicas. Há um
significativo componente propriamente político na explicação desses
fenômenos.
O principal: mesmo no
ambiente mais propício, o ódio ao PT é minoritário e contamina apenas um
quinto da população. Daí se extraem duas consequências. Erra a oposição
ao fincar sua bandeira na minoria visceralmente antipetista. Querer
representá-la pode até ser legítimo, mas é burro, se o projeto for
vencer eleições majoritárias.
Erra o petismo ao se
amedrontar e supor ter de enfrentar a imaginária maioria do antipetismo
radical. Só um desinformado ignora os problemas atuais da legenda. Mas
superestimá-los é um equívoco igualmente grave.
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Ora, se 78% adoram o PT... Tá de bom tamanho,não?
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