segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Contraponto 18.229 - "Lula no garrote vil, Brasil independente e política externa"


23/11/2015



Lula no garrote vil, Brasil independente e política externa
 

Blog Palavra Livre  -  23/11/2015



Por Davis Sena Filho
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Luiz Inácio Lula da Silva representa as urgências da sociedade, a se contrapor à restauração do poder político conservador, ferramenta de supremacia dos interesses econômicos de uma minoria que controla os meios de produção, as terras, os meios de comunicação privados e o poder financeiro, por intermédio da banca nacional e internacional.



Interessa à direita brasileira, subordinada à plutocracia mundial, estancar o ciclo desenvolvimentista no Brasil e também na América do Sul, que se deu início no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000, quando políticos progressistas começaram a conquistar a Presidência da República em vários países das Américas Central e do Sul.



Os quinze anos de avanços sociais e estruturais em países como o Brasil, Uruguai, Argentina, Venezuela, Chile, Bolívia, Paraguai, Equador, Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala, com interregnos conservadores em alguns países, mobilizou o establishment dessas regiões de tal forma, que defender os interesses do mercado e reefetivar a agenda neoliberal se tornou uma obsessão por parte de grupos direitistas mais radicais.



Setores influentes que não estão dispostos a negociar com a sociedade, ou seja, com a maioria das populações desses países, no que diz respeito a permitir que se continue a distribuir riqueza e renda, mesmo de forma moderada, como tem acontecido, bem como se contrapõem ao estado como principal agente indutor do desenvolvimento, como sempre fizeram no decorrer da história, inclusive a promover golpes de estado contra presidentes socialistas, trabalhistas e desenvolvimentistas.



Trata-se de segmentos ligados umbilicalmente à plutocracia internacional fomentadora de invasões, guerras e golpes, em suas diferentes formas. As casas grandes detentoras do dinheiro e, consequentemente, do poder político controlador do Estado e dispostas a não aceitar o jogo democrático, como, por exemplo, o que ocorreu no Paraguai, um golpe "suave" contra o presidente constitucional, Fernando Lugo, ao contrário do que se sucedeu em Honduras, quando o presidente Manuel Zelaya foi brutalmente destituído do poder por meio de um golpe militar, em pleno século XXI e após a redemocratização da América Latina.



A imprensa hegemônica e porta-voz das oligarquias apoiou a quartelada à moda latino-americana, assim como os políticos de direita de toda a região se acumpliciaram com o crime praticado pelos militares e empresários, que sempre se beneficiam financeiramente com a quebra da ordem institucional e constitucional. Evidencia-se dessa forma draconiana o poder estatal burguês, atrelado aos interesses das elites dominantes, que sempre controlaram os estados nacionais.



O estado que sempre serviu ao patrimonialismo da casa grande e aos interesses da plutocracia internacional, a verdadeira patroa dos multimilionários da América Latina. O Estado que possui em seus quadros os juízes, os promotores e procuradores e os policiais, que farão o trabalho de conspirar e atacar os políticos que não foram cooptados pelo status quo, ao tempo que efetivam programas e projetos de apelos populares, pois são ações de estado de inclusão social, que promovem a igualdade de oportunidades.



Evidentemente quando se inclui e se dá oportunidades aos mais pobres, aos que são hereditariamente e historicamente excluídos, aos que podem menos, porque não tem acesso à boa escolaridade, além de não ter influência política e econômica, os avanços sociais são visíveis. Dentre o conjunto de principais avanços constam a instrução, o conhecimento e o saber.



Quando uma sociedade, por intermédio de seus governos e governantes, permite, e mais do que isto, exige que a população se instrumentalize para se tornar emancipada, tal sociedade se torna livre, porque ser livre é ter consciência do que é justo e injusto, legal e ilegal, democrático e antidemocrático e verdadeiro ou falso. 
A conscientização e a emancipação dos povos são feitos que a plutocracia não quer, ao tempo que sempre irá combatê-los, inclusive com suas máquinas de guerras, como ocorre, agora, na Síria e em todo o Oriente Médio, Norte da África e no leste europeu, com destaque para a Ucrânia, que hoje está nas mãos de políticos golpistas, de ideologia nazista e apoiados pelos Estados Unidos.



E é exatamente o que acontece, em termos políticos, partidários e eleitorais com o ex-presidente e político trabalhista, Luiz Inácio Lula da Silva, que está a ser colocado à força, em um garrote vil, pela máquina judiciária estatal e pela mídia dos magnatas bilionários de imprensa, moedora de reputações alheias, cuja intenção é sufocá-lo até matá-lo politicamente, por meio da desqualificação e desconstrução de sua imagem como cidadão e político.



Trata-se da imolação e do linchamento público de um político notável, de esquerda e carismático, que saiu das raízes do povo brasileiro para assumir por oito anos o maior poder da República, bem como elegeu também por mais oito anos sua sucessora, Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente do Brasil, além de ter vindo das fileiras da esquerda revolucionária, que optou por combater a ditadura militar pela força das armas.



Essas realidades juntas, além de Lula ser um competente formulador político, estrategicamente quase perfeito, assim como dono de um discurso simples ao tempo que complexo, porque compreensível para o povo, por ser direto e baseado em figuras de linguagem, que levam o povo a pensar, a conjecturar, a ponderar e a fazer comparações sobre o que sua vida é no presente, como foi no passado e o que pode ser no futuro.



Ademais, o discurso de Lula, um dos melhores e maiores oradores produzidos pelo Brasil em todos os tempos, faz os inquilinos da casa grande perceberem que a retomada da agenda neoliberal terá de enfrentar uma barreira poderosa se o estadista trabalhista for eleito, em 2018, presidente da República pela terceira vez.



É tudo que o sistema de capitais, que vive de renda, aplicações e jogatinas em bolsas de valores e bancos não deseja, bem com tudo fará para criminalizar o presidente mais popular da história do Brasil, juntamente com Getúlio Vargas, o civilizador das hordas empresariais e comerciais selvagens deste País, que escravizaram seres humanos por 400 anos.



O propósito é impor novamente o neoliberalismo, que de maneira incipiente teve o caçador de marajás e hoje senador, Fernando Collor, como seu patrono, mas que tomou força e se tornou amplo no governo de Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I —, aquele que desmantelou o Estado nacional e entregou o Brasil e seu povo às aves de rapinas da América do Norte e da Europa.



Estados belicosos que financiam grupos terroristas como o Estado Islâmico, criaturas que depois se voltam contra os países colonialistas, seus criadores, que insistem em resolver suas demandas geoestratégicas e econômicas a invadir, bombardear e matar populações inteiras, em massa, ainda mais quando se trata de países e nações historicamente não alinhadas, a exemplo da Síria, da Líbia e do Iraque.



Aliás, todas essas guerras e tragédias tem origens no Iraque, que está a ser roubado pelos trustes dos Estados Unidos, Inglaterra e França, além de outros países menos importantes, que estão a tremer por temer virar alvos de terroristas, que se explodem, em uma fúria desumana, pois fanática, que chega às raias do satânico.



Contudo, a realidade é esta; e o maior culpado desse banho de sangue e violência são, sem sombra de dúvida, os Estados Unidos — o cowboy da diplomacia do porrete. Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Quem planta vento colhe tempestade. Você colherá o que plantar. É a lei do retorno. A lei infalível. A Lei de Deus.



O mesmo Deus cujo nome é usado em vão por homens e mulheres que se tornam insofismavelmente diabólicos por defenderem causas políticas e religiosas, bem como por mandatários ocidentais de estados imperiais e colonialistas, que insistem em matar e roubar àqueles que discordam de seus valores e interesses, ou seja, não leem por suas cartilhas. Ponto.



Lula está a atravessar uma ponte que está a balançar, porque terá de enfrentar, sem estar no poder, os diferentes grupos que hoje lhe combatem, sem trégua e sem lhe dar água. Sua luta não se resume a apenas mobilizar as forças populares organizadas na sociedade civil, que sempre apoiaram-lhe e deram-lhe sustentação política e garantiram-lhe votos, inclusive em setores importantes e emblemáticos da classe média, que hoje, em sua maioria, faz-lhe oposição feroz, intolerante e até mesmo sem discernimento das realidades.



A verdade é que o político do PT está em uma encruzilhada e necessita reverter esse quadro de desconstrução que tem por finalidade destruí-lo como ser moral e político. Para isto, a mobilização tem de ser grande, consistente e sistemática. Do contrário, os conservadores voltarão a conquistar o poder e impor, mais uma vez, suas agendas e seus projetos neoliberais, que no passado levou a América Latina e o Brasil à bancarrota, mas que privilegiou os ricos, os bilionários, os países desenvolvidos e os trustes internacionais e nacionais.



Esses grupos de dominação e rapinagem estão desesperados. A ascensão ao poder de mandatários progressistas na América Latina  diminuiu as remessas de lucros para o exterior, dívidas externas foram saldadas e, com efeito, a qualidade de vida dos povos ricos caiu, como comprovam as crises que abateram suas economias, a partir de 2008.



Impedir que um político de esquerda, trabalhista e compromissado com as camadas populares de uma Nação poderosa como o Brasil é uma questão imperiosa para a direita plutocrata e de alma sectária como a brasileira, que, subalterna e submissa, trabalha para as estrangeiras, a fim de receber migalhas em forma de favores nunca explicitados por seus jornais, rádios e televisões. Jamais expostos ao público sobre seus reais interesses e desejos.



Levar Lula ao garrote vil da política é a mesma coisa que impedir o Brasil de avançar, principalmente no que concerne à independência do País em todos os setores e segmentos, inclusive o militar. Destruir o Lula é subordinar o Brasil aos ditames neocolonialistas. E por quê? Porque não emancipar a Nação representa manter privilégios e benefícios de uma casta que deixou há muito tempo de ser brasileira, porque se estrangeirou e se colonizou de tal forma que hoje demonstra, inquestionavelmente, que odeia o Brasil e seu povo.



Colonizar-se para submeter-se requer distanciamento emocional do Brasil e da brasilidade. Requer ainda se afastar para não compreender as necessidades, os desejos e os sonhos dos brasileiros — do povo. Colonizar-se e se tornar escravo da vontade de outros países ou de uma casta rica é permitir, e mais do que isto, apoiar o atraso e o retrocesso, na forma de eliminar da vida da Nação brasileira a legislação trabalhista, não regulamentar a Constituição, bem como emendá-la para atender anseios antinacionais e antipopulares.



Deixar ser dominado é acabar com a valorização do salário mínimo, vender a Petrobras ou entregar o Pré-sal, assim como prejudicar a aposentadoria dos trabalhadores para que as classes dominantes e os credores possam receber dinheiro sem se preocupar se vai recebê-lo. Ser dominado é extinguir o Bolsa Família, o maior e mais competente programa de inclusão social do mundo, além de dar fim a projetos de igualdade de oportunidades, como o Ciência sem Fronteiras, o Fies, o ProUni, o Enem, o Pronatec e o Sisu, todos ligados è educação e ao ensino, que permitir que milhares de pessoas pobres e negras se integrassem na sociedade, porque só a educação integra e liberta.



Além disso, tem ainda as questões relativas à diplomacia internacional, que levou o Brasil a outros patamares e o tirou da condição de país de segunda linha em termos mundiais. A direita por não pensar o Brasil, o quer na posição de vagão e não de locomotiva. Sendo assim, a casa grande continua com sua vidinha de privilégios e sectarismo, a fazer do Brasil um clube para atendê-la e deleitá-la. É isto mesmo. Não se engane. E Lula é a continuidade da diplomacia independente e não alinhada, bem como voltada a cooperar com os países de outros continentes e regiões.



Não se pode esquecer que foi nos governos petistas e trabalhistas que os pobres e a classe média passaram a ser consumidores de forma plena. Por sua vez, as obras de urbanização e de infraestrutura que aconteceram e acontecem aos milhares em todos o Brasil geraram mais de 20 milhões de empregos, porque fez a roda da economia girar. O Brasil ainda se tornou anfitrião de mais de dez megaeventos internacionais e, por seu turno, referência turística e geográfica no mundo.



O envolvimento do Brasil em grupos econômicos e políticos, além do fortalecimento dos já existentes, faz do poderoso País da América Latina, dono de um mercado interno gigantesco, alvo do establishment mundial, que deseja impor seus interesses por meio de seus blocos econômicos, como a Alca e a UE.



A criação do Brics e de seu bilionário banco, a efetivação do G-20, que hoje é mais importante do que o G-7 ou G-8, o fortalecimento do Mercosul, da Unasul e as relações Sul-Sul, em termos hemisféricos, entre o Brasil e os países africanos e asiáticos deram uma percepção positiva e de respeito por parte da comunidade internacional, no que se refere à potência sul-americana de língua portuguesa.



O "País tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza", conforme a música de Jorge Benjor, transformou-se na sétima maior economia do mundo, mas que continua a ser vista pela sua colonizada, provinciana e subalterna classe dominante como um País menor. Lula nunca pensou assim, e mostrou como se faz um País crescer, porém, sem esquecer de que o sol nasce para todos e não apenas para alguns apaniguados da sorte e beneficiados na vida, que pensam que governar é para a minoria se divertir, deleitar e refestelar.



Por tudo isto que foi dito é que Lula está agora no garrote vil. E a bronca é grande e violenta. Essa gente pequena está a se esmerar em suas perversidades, maledicências e golpes. Vão se conduzir como bárbaros fora do poder até o fim, que são as eleições de 2018. O sistema de capitais quer destruir o presidente mais popular da história do Brasil e o mais respeitado e conhecido no exterior. Apesar dessa realidade, a casa grande quer tratar o Lula como seu empregado e matá-lo por intermédio do garrote vil. É isso aí. 

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