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16/11/2015
Exército Islâmico é cria dos EUA, diz democrata
Brasil 247 - 15 de Novembro de 2015 às 07:40
Debate dos candidatos democratas à presidência dos
Estados Unidos, ocorrido na noite de ontem, foi tomado pela discussão
sobre terrorismo, depois da sexta-feira 13 em Paris; o ponto alto
ocorreu quando o senador Bernie Sanders (esq.), o melhor nome da
disputa, responsabilizou os Estados Unidos pela instabilidade atual no
Oriente Médio e afirmou que a invasão do Iraque, apoiada por Hillary
Clinton, "foi a pior decisão de política externa dos Estados Unidos em
toda a sua história"; Sanders disse ainda que a intervenção no Iraque
teve como consequências o fortalecimento do Exército Islâmico,
responsável pelos ataques em Paris
"A invasão desastrosa do Iraque, à qual eu me opus frontalmente, desorganizou toda a região e permitiu a ascensão não apenas da Al-Qaeda como também do Estado Islâmico", disse ele. "Foi a pior decisão de política externa dos Estados Unidos em toda a sua história".
O questionamento de Sanders tocou numa ferida de Hillary, que, como senadora, apoiou a invasão do Iraque em 2003, pelo governo de George W. Bush, motivada pelas falsas acusações de que o regime de Saddam Hussein possuía ligações com o atentado de 11 de Setembro de 2001 e também desenvolvia armas de destruição em massa.
Desde a queda de Saddam, não houve mais estabilidade política no Iraque e o Exército Islâmico, que assumiu a autoria dos ataques em Paris, hoje controla a região de Mosul, uma das mais importantes áreas petrolíferas do país.
Confira aqui o vídeo de ontem em que Sanders tocou na ferida americana:
Sanders disse ainda que os Estados Unidos deveriam cessar com a política de tentar mudar regimes políticos à força, como vem sendo tentado na Síria.
Leia, abaixo, o perfil do senador que é o melhor candidato à presidência dos Estados Unidos em 2016, recentemente publicado pela revista Carta Capital:
Bernie Sanders, uma ameaça a Hillary
Ninguém imaginava, mas a principal ameaça às pretensões eleitorais de Hillary Clinton nas
hostes do Partido Democrata parte de um provecto senador de Vermont.
Aos 73 anos, Bernie Sanders, único parlamentar declaradamente
socialista, assusta a ex-primeira-dama e ex-secretária de Estado. As
pesquisas mais recentes apontam sua impressionante ascensão entre os eleitores:
em dois meses ele reduziu pela metade a diferença em relação a madame
Clinton e empatou com a antiga colega no Capitólio no decisivo estado de
New Hampshire.
Cabelos brancos, corpo
tenso em um terno preto ao menos um número acima do ideal, óculos
simples de aro branco, sem gravata, o candidato a candidato celebrou o
feito na primeira semana de julho em um comício com 10 mil espectadores
no Veterans Memorial Coliseum, em Madison, no Wisconsin. A cidade não
foi escolhida por acaso. É uma das joias da coroa da direita americana,
principal palco da batalha entre o governador Scott Walker, apoiado pelo
movimentoultraconservador Tea Party,
e os sindicatos, por conta da plataforma de austeridade fiscal e Estado
mínimo defendida pelo republicano, um dos 16 candidatos oficiais da
oposição na disputa pela Casa Branca do próximo ano.
“Hoje fizemos história.
Nenhum comício desta campanha reuniu tanta gente em um mesmo evento.
Ontem, cheguei à cidade e as propagandas republicanas me identificaram
como o extremista de Vermont. Extremista é quem nega o direito dos
trabalhadores de barganhar na mesa por melhores condições de trabalho. É
quem diz às mulheres que elas não são capazes de decidir o melhor para
seus próprios corpos. É quem as trata como crianças ao negar o direito
de acesso a contraceptivos. É quem corta os impostos de bilionários e se
recusa a aumentar o salário mínimo”, discursou.
Os gritos de “Bernie!
Bernie! Bernie!” remeteram a outro candidato, negro, igualmente oriundo
do Senado, sem projeção nacional, que em 2008 reuniu um número de
militantes em torno de um projeto político capaz de derrotar os
poderosos Clinton nas primárias democratas. Em seu comício em Madison,
Sanders recebeu os mais intensos aplausos públicos da campanha até o
momento ao afirmar que “é chegada a hora da criação de um movimento
político que diga aos mais ricos de forma decisiva: vocês não podem ter
tudo”.
As reações das cabeças
coroadas do Partido Democrata revelam o temor de o senador enfraquecer
aquela que poderá ser a primeira mulher a governar os Estados Unidos. De
acordo com a revista semanal The Nation, uma ação da cúpula
partidária impediu a maior central sindical do país de anunciar o apoio a
Sanders e garantir um compromisso de neutralidade. O mago das duas
campanhas presidenciais de Obama, David Axelrod, escreveu no Twitter,
logo após a divulgação das pesquisas, que as plateias do senador lembram
mais Howard Dean, outro político oriundo de Vermont, do que aquelas de
Obama. Em 2004, Dean conseguiu galvanizar a esquerda do partido. “Seu
impacto foi inegável, mas quem venceu as prévias foi John Kerry”, anotou
Axelrod. O atual secretário de Estado, como se sabe, figura moderada,
mas sem a capacidade de levantar as massas, acabou derrotado nas
eleições gerais por George W. Bush.
Nem todos concordam. “O
novo nesta campanha até agora é justamente a quantidade de eleitores
dispostos a discutir as ideias propostas por Sanders, que, fora de
Vermont, pareciam até ontem alienígenas ao status quo da
sociedade americana”, diz a advogada Carole Echanis, simpatizante de
Sanders desde que este se elegeu, em 1981, prefeito de Burlington, a
cidade mais populosa do estado vizinho ao Canadá.
O analista político Nate Cohn, do New York Times,
lembra que, além das pesquisas e dos comícios, Sanders demonstra poder
de fogo nas arrecadações, com 15 milhões de dólares em seus primeiros
três meses de campanha, ou um terço dos números apresentados por madame
Clinton. Uma diferença: o senador recebeu doações de mais de 400 mil
indivíduos, enquanto a ex-secretária de Estado se valeu do apoio dos
mais ricos. Dados que alimentam a mensagem de Sanders de ser ele o único
candidato anti-lobby no flanco democrata e bem à esquerda da
concorrente em relação a Wall Street e à política externa. Também se
lançaram na disputa entre os governistas, sem grande repercussão, os
ex-governadores de Maryland e Rhode Island, Martin O’Malley e Lincoln
Chafee, e o ex-senador Jim Webb, da Virgínia.
“Neste momento, ele tem
números idênticos aos de Obama na campanha de 2008. Mas Obama tinha um
discurso moderado fundamental para vencer Hillary em uma disputa
apertadíssima. O que pesou foram os votos dos negros, o grupo mais
conservador entre os democratas, especialmente em temas sociais. De lá
para cá, por sua vez, Hillary ampliou a vantagem que já tinha há oito
anos entre os democratas de origem latino-americana”, pondera Cohn.
De qualquer modo, Sanders
conseguiu o feito de mover a candidatura Clinton para a esquerda.
Interessada em assegurar o apoio das principais figuras da ala mais
liberal do partido, cujas duas principais estrelas são a senadora
Elizabeth Warren, de Massachusetts, e o prefeito de Nova York, Bill de
Blasio, a ex-secretária de Estado tem defendido a ampliação de programas
de combate à desigualdade social e de redução da pobreza nos EUA, temas
caros ao senador. O receio da cúpula do partido governista é de que
esse inesperado obstáculo à esquerda impeça a favorita da legenda de
conquistar o apoio dos eleitores independentes na eleição geral, nem
republicanos nem democratas, cruciais nos estados mais decisivos na
disputa de 2016.
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