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30/11/2015
Sergio Porto, eles voltaram. Sem farda, de toga… É o “dedo-duro do milhão”
Por Fernando Brito
Qual a diferença entre denunciar e “dedurar”, é uma boa questão para os filólogos ajudarem a deslindar.
Cá pra mim, associo denúncia como um ato de coragem, de indignação, de quem corre risco e se expõe diante do que sua consciência não lhe permite aceitar.
E sobre “dedurar”, fico com a clássica definição de Sérgio Porto, o imortal Stanislaw Ponte Preta, transcrita pelo Jaguar:
“Pouco depois da ‘Redentora’ O golpe de 64), cocorocas de diversas classes sociais e algumas autoridades que geralmente se dizem ‘otoridades’, sentiram a oportunidade de aparecer, já que a ‘Redentora’, entre outras coisas, incentivou a política do dedo-durismo (corruptela de dedo-duro, isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo, advindo daí cada besteira que vou te contar).”
Dedurar passou a ser bom para fazer carreira, subir no gosto dos donos do poder. Ah, claro, a deduragem só valia, por lei não-escrita, para seus inimigos. Porque, como se sabe, por dentro muita gente mamou e engordou – alguns até ficarem do tamanho do globo – com as mais grossas e finórias falcatruas.
Pois remexa-se na nuvem aí onde está, Sérgio, porque os cocorocas voltaram.
Está lá, escrito com todas as letras que as nossas “otoridades” querem, agora, instituir o “Bolsa Dedo-Duro”, pagando entre 15 e 20% do que for recuperado graças a informantes que o que disserem ser malfeitos alheios.
Na Folha:
“Autoridades federais que atuam no
combate à corrupção propõem a criação de mecanismos para permitir o
pagamento de recompensas para os denunciantes de crimes contra os cofres
públicos.
A ideia é que a remuneração aos
informantes seja de 10% a 20% do valor recuperado para a administração
pública ou saia das multas aplicadas aos autores dos delitos.”(…)
A coordenadora das ações para
concretizar a proposta é a Associação dos Juízes Federais (Ajufe). O
magistrado Márcio Antonio Rocha, representante da Ajufe na Enccla, diz
que a experiência bem sucedida dos EUA de incentivo aos denunciantes
(denominados “whistleblowers”) pode servir como base para a iniciativa
brasileira.”
Deu certo, excelência?
E aquele soldado, Bradley Manning (que virou Chelsea) ganhou o que, além de uma sentença de 35 anos de prisão, por mostrar atrocidades das tropas dos EUA. E o whistleblower do Wikileaks, o Julian Assange recebeu algo além de ter de viver escondido em embaixadas, por um suposto estupro de duas moças suecas (logo na Suécia, pobre Garrincha…).
Então é assim, meus senhores. Quer ganhar uma boa grana? Espione, finja-se cúmplice, conheça ou monte uma história e monte algum suporte de verdades, nem que sejam pela metade e aí…torne-se um dedo-duro premiado…
Quem sabe se com este novo futuro que nos espera, graças à honradíssima sabedoria dos juízes federais, amanhã não surja um novo Stanislaw para reescrever seu “Garoto Linha Dura”:
– Então, meu filho, o que você vai ser quando crescer?
– Já decidi, pai…
– Vai ser engenheiro, médico ou advogado?
– Não pai, vou ser dedo-duro, o João, meu coleguinha na escola falou que o pai dele é e eles vão pra Disney agora nas férias…Você nunca me levou lá, sempre diz que o dinheiro não dá…
Como ainda não apareceu, deixo os meninos da Bibliotecademia do Sagrado, na sua pureza, narrem o conto, atualíssimo…
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