07/07/2016
Xadrez do tucano que subiu no telhado
Alguns desdobramentos da Lava Jato.
Luis Nassif
Lance 1 - as tacadas no mercado norte-americano
Consiste em uma esperteza de advogados norte-americanos, valendo-se da eterna ingenuidade penal brasileira.
Por lá se desenvolveu a curiosa tese de que o dólar é um patrimônio dos Estados Unidos. Assim sendo, qualquer ato de corrupção que envolva até meros pagamentos em dólar expande a territorialidade e passa a ser tratado como ato de corrupção contra o governo norte-americano. É a mais nova forma de tomar dinheiro, seguindo no rastro dos fundos-abutre.
Qualquer operação contra empresas brasileiras se transforma instantaneamente em ações de indenização contra elas nos EUA.
Tome-se o caso do Bradesco. De manhã, a Zelotes implica o banco em uma bobagem qualquer. No meio da tarde, explode uma ação contra o banco em Nova York.
Essa estratégia está se disseminando pela banca nova-iorquina, contando com a inestimável ajuda do Ministério Público Federal (MPF), que trata de alimentar os processos com informações contra as empresas brasileiras.
Com a agilidade que caracteriza o mercado norte-americano, não se surpreenda se já não tiverem montado uma estrutura de insiders para antecipar os próximos alvos dessas operações.
Lance 2 - as próximas rodadas de delações
Até agora, o PSDB passou razoavelmente ileso pelas operações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.
O momento crucial foi no inquérito sobre a Alstom, quando autoridades suíças solicitaram busca e apreensão na casa de um notório lobista, estreitamente ligado a Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
As investigações foram brecadas na undécima hora graças ao procurador Rodrigo De Grandis, que não apenas ignorou o pedido das autoridades suíças, como três cobranças do Ministério da Justiça e inúmeras cobranças de procuradores estaduais (http://migre.me/uikWY). De Grandis terminou absolvido em uma correição instalada para apurar suas responsabilidades.
Na Folha de ontem, a colunista Mônica Bergamo informa que houve delações contra Aécio Neves, no âmbito da Lava Jato, apenas devido ao fato de ele ter ajudado a colocar lenha na fogueira da operação. As fontes de Mônica dizem mais: José Serra foi relativamente poupado porque recolheu-se a tempo, para não botar mais lenha na fogueira.
Nas duas informações, fica claro que em nenhum momento houve interesse da Lava Jato em levantar qualquer ponto de corrupção que avançasse além da demarcação prévia, de pegar Lula e o PT.
Mesmo assim, as próximas rodadas de delações - da Odebrecht e da OAS - deverão ser amplas. Não serão poupados nem Aécio Neves nem José Serra.
No caso de Aécio, a denúncia mais pesada virá da OAS, em relação às obras do Centro Administrativo. As delações da Odebrecht também não deverão poupar ninguém do mundo político. Serão preservados, no entanto, os personagens do mundo jurídico. No caso de Serra, a maior parte das delações se refere a financiamentos de campanha. Mas há pelo menos uma denúncia na boca do forno envolvendo os fundos de filha de Serra, Verônica.
No momento, Serra tenta a todo custo consolidar alguma proatividade no âmbito do Ministério das Relações Exteriores. Jejuno no tema, aparentemente não se aprofundou na matéria, nem mesmo na condição de observador político. Precisou recorrer a FHC para conseguir algum resultado na assembleia do Mercosul que irá definir o próximo presidente.
Dependendo da gravidade das delações contra Aécio e Serra, zera-se o jogo político. O que exigirá a redefinição dos cenários políticos possíveis até 2018.
Uma coisa é certa: quem disser que sabe o que acontecerá estará chutando.
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