07/11/2016
O plano de fuga de Serra
O plano de fuga de José Serra
De Estocolmo – Wellington Calasans, colunista do Cafezinho
A parcialidade da velha imprensa familiar brasileira, sem precedentes
no mundo, constrói um universo paralelo, decorrente da ausência de uma
comunicação social plural, e consegue impor como verdadeira aos olhos da
sociedade a estratégia de imagem de pessoas que seriam – para não dizer
muito – motivo de piada em qualquer país minimamente sério. A blindagem
de figuras como José Serra, por exemplo, tem como consequência natural
os sérios danos que a sua prática política e pensamento tosco produzem
contra o Brasil e os seus cidadãos.
Com um histórico extenso de impunidade, Serra continua a alimentar as
suspeitas de que pratica crimes diversos de enriquecimento ilícito e
contra o patrimônio público. Em uma ordem decrescente, mas não
totalmente detalhada, as suspeitas iniciam nos recentemente revelados 23
milhões recebidos, na Suíça, em forma de propina, segundo as delações
premiadas de quadros da Odebrecht, e culminam na origem do seu único
projeto político, a privatização.
Não é preciso muita ginástica para afirmar que somente no Brasil,
graças ao trabalho de blindagem da mídia e justiça, as revelações feitas
pelo WikiLeaks – de que Serra prometera a entrega do Pré-sal a uma
empresa estrangeira – não mereceram a devida atenção. O livro “A
Privataria Tucana”, que todo brasileiro deveria usar como livro de
consulta, é, mais que uma publicação, uma prova incontestável de que
José Serra merece uma investigação isenta. Provavelmente, por saber que
enquanto houver no STF personagens cômicos como o amigo Gilmar Mendes, a
sua cara de pau estará devidamente impermeabilizada.
Por ser um político asqueroso, tipicamente canalha e que não
resistiria a um único processo imparcial, José Serra segue na sua
estratégia de viver uma realidade paralela, construída através da
imprensa. Seja pela omissão dos escândalos nos quais está supostamente
envolvido ou através da publicidade de uma imagem totalmente
incompatível com a realidade, Serra continua a praticar absurdos e
bancar o estadista, mas sabe que tem ido muito longe e, por conta disso,
mesmo ao seguir incólume neste caminho incerto, começa a dar sinais de
que as pernas das mentiras não aguentam mais alongar. E, muito
provavelmente por isso, deu início aos preparativos para o seu plano de
fuga.
A propósito da expressão “plano de fuga”, uma recente publicação da
Veja (toc toc toc), afirma que Serra teria avaliado que “ao recorrer à
ONU, Lula estaria criando as condições para pedir asilo a algum país
amigo”. Serra segue a fingir ser um estadista ao avaliar que “Lula pode
criar grave problema internacional para o Brasil, se assumir o papel de
asilado político”. Tudo isso foi dito quando a justiça e a velha mídia
ignoram a presença do tucano em mais uma investigação da Lava a Jato.
Ouso discordar de um dos melhores jornalistas brasileiros, Luis
Nassif, que tem analisado com alguma preocupação o comportamento confuso
de José Serra. Se, para Nassif, Serra dá sinais de “senilidade”,
confesso que a minha desconfiança é outra. Longe de ser decrépito, Serra
começa a construir nas entrevistas arrumadas, onde a Argentina é citada
como país-membro dos BRICS, o próprio “plano de fuga”. Algum amigo
jurista deve ter dito a ele que a demência senil permite a interdição
civil e é realizada nos casos em que o interditando se encontra
impossibilitado de realizar os atos da vida civil. O caráter de Serra
não nos permite descartar a possibilidade do uso desse recurso quando,
por algum motivo, a blindagem for rompida. A riqueza inexplicável da
filha dele me conduz a este pensamento, mas isso merece um novo texto.
Vou analisar melhor o assunto com a ajuda do livro do Amaury Ribeiro Jr.
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