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02/07/2016
Fábio Cleto, o “abridor de cofres” de Cunha, passaria na “Lei da Meritocracia das Estatais”
Do Tijolaço · 02/07/2016
Por Fernando Brito
Ontem, cedinho, escrevi aqui que a simples exclusão daqueles que vieram da política e sua substituição por “técnicos” não tinha senão um significado demagógico sob o ponto de vista da honradez no trato do dinheiro público.
Infelizmente, nas primeiras horas da manhã, os fatos confirmaram aquilo que eu dissera.
Fábio Cleto, a nova estrela da constelação dos delatores, é um técnico, jamais teve militância política.
Eu o vi algumas vezes, a caminho das reuniões do Conselho do FGTS, onde era representante da Caixa.
Tudo o fazia “respeitável”: de pouco falar, discreto, a aparência yuppie, os ternos bem cortados rosto e cabelo alinhados, bem diferentes do jeitão mal-ajambrado daqueles velhos esquerdistas aos quais os “bacanas” torciam o nariz.
O currículo dele ainda está no Linkedin, devidamente em inglês: bacharel pela FGV, Master Science pela USP. com passagens relativamente longas pelos bancos ABC Roma (Roma não é a cidade, mas a junção das sílabas iniciais de Roberto Marinho), Nacional, Multiplic, Brascan, Dresdner Bank, Itaú e uma corretora, a Aquitaine.
Perfeito. Cleto não se metia em “política” nem tratava de propina.
Mas é um ladrão e era uma gazua para ladrões muito maiores.
Repassando: Cleto passava a Eduardo Cunha a lista de quem se candidatava a empréstimos do Fundo de Investimentos do FGTS, Cunha extorquia as empresas onde via chance de fazê-lo, passava ao “técnico” a orientação de aprovar ou “melar” a operação, sempre “tecnicamente”, apanhava-se o dinheiro e o rapaz recebia sua parte em contas de offshores na Suíça e no Uruguai.
É óbvio que nem todo profissional “de mercado” é corrupto ou cúmplice de corruptos. Conheço muitos e não me envergonho de dizer que tenho vários amigos entre eles, aos quais considero gente correta e de princípios, à parte diferenças ideológicas.
Mas a lógica do “mercado” é, porque é a de ganhar dinheiro aproveitando oportunidades.
Cleto aproveitou a dele e alguns milhões amealhou com isto (duvido muito que todos devolvidos à Justiça).
Vai sair disso com uma tornozeleira e uma vida bem mais folgada que a de uma geração de militantes políticos que, se muito, chega à velhice com um apartamento modesto e alguns cobres guardados para o hospital ou a decrepitude, um dos dois algum dia inevitável.
O vilão – e o é, e muito – é Eduardo Cunha. O delator, nossa nova modalidade de herói midiático-judicial, é quase um herói.
O endeusamento desta modalidade de “virtude” é algo tão perigoso e daninho quando achar que, na tecnocracia, não viceja, também, a cle(p)tocracia.
A política, longe de ser a promotora da corrupção, é um mecanismo de controle dos desvios próprios da natureza humana, porque os coloca sob o crivo do julgamento coletivo e social.
Crivo que não haverá se os partidos políticos são destruídos e o que valer para a eleição for ter mais e melhores cletos.
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