segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Nº 19.918 - "Que é isso, Pedro Parente?"

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12/09/2016

Que é isso, Pedro Parente?

 

 Brasil 247 - 12/09/2016

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Paulo Moreira Leite


No previsível esforço para tentar livrar-se da mancha de “golpista” que acompanha todo cidadão composição de responsabilidade no governo Michel Temer, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, partiu para o ataque em entrevista ao Broadcast. Referindo-se aos maus negócios que tem marcado sua gestão a frente da maior empresa brasileira, Parente afirmou:
– Nosso programa de desinvestimentos e parcerias é absolutamente fundamental para consertar a empresa dos problemas que esse pessoal, que hoje fica falando de 'golpe', criou ao indicar a minoria que promoveu a roubalheira contra a Petrobras.

O argumento envolve um esforço inútil, pois diz respeito a uma realidade ainda fresca na memoria.

O pré-sal, que hoje responde por 50% da produção brasileira de petróleo, foi descoberto no período em que “esse pessoal, que hoje fica falando em golpe,’” estava no comando da empresa. Guilherme Estrella, o geólogo que liderou a equipe responsável pela descoberta, é o primeiro a reconhecer que ela seria impossível sem o apoio de cima – a começar pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O mesmo diz Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia, que em depoimento no Congresso demonstrou, por A + B, o caráter ruinoso das mudanças que se tenta implementar na empresa após a chegada de Parente.

As tentativas de associar "esse pessoal" às denúncias de corrupção apuradas pela Lava Jato é leviana, para dizer o mínimo.  Em 1996, o jornalista Paulo Francis, com grande audiência na corte tucana, denunciou diretores da Petrobras que mantinham contas de dezenas de milhões de dólares na Suíça. Menos de um ano depois, enfrentando um processo em Nova York no qual lhe cobravam uma indenização de US$ 100 milhões, Francis morreu de infarte, sem ver a denúncia ser apurada. Conforme os amigos, o coração não resistiu às ameaças dos acusados – ocupantes de cargos de confiança no governo do PSDB.

No “Diário da Presidência,” FHC registra, na época, um jantar com o empresário Benjamin Steinbruch, então membro do Conselho da Petrobras. No encontro, Steinbruch descreve uma estrutura de funcionamento que ajudava a dar cobertura às más práticas de  dirigentes da empresa. Mesmo admitindo, por escrito, que era necessário fazer mudanças, a começar pela diretoria, FHC admite nada ter feito.

Entre os personagens recentes, vale mencionar Paulo Roberto Costa, o primeiro grande gatuno identificado na direção da Petrobras, operador histórico de propinas, era homem de confiança do Partido Popular, um dos sócios graúdos do golpismo de coalizão formado por Michel Temer, onde acumula três ministérios.

Idem para o suíço Eduardo Cunha, responsável pela aceitação de uma denúncia furada que levou ao impeachment, grande cacique do PMDB, o partido de Temer.

“Michel é Cunha" disse o parceiro Romero Jucá, um dos articuladores da queda de Dilma no Senado, forçado a deixar o governo Temer numa tentativa de salvar as aparências.

Pedro Barusco, o petro ladrão que trouxe US $ 100 milhões de volta da Suíça e nunca esclareceu quanto pode deixar por lá, admite que começou a participar de negócios sujos na década de 1990, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso.

A história também contraria Pedro Parente no quesito democracia. Mostra que o núcleo duro dos articuladores golpistas que agiram ao longo dos últimos 60 anos foi formado por militares que se destacaram por uma política contraria ao fortalecimento da Petrobras e simpática aos interesses do mercado e do governo norte-americano – exatamente como se passa na empresa depois da posse de Michel Temer.

Numa fase inicial, eles se reuniram em torno da Escola Superior de Guerra, criada depois da Segunda Guerra como uma correia de transmissão do pensamento militar norte-americano no auge da Guerra Fria. Apontavam todo esforço de desenvolvimento autônomo e soberania nacional como um simples disfarce para ideias comunistas. Fizeram oposição à campanha “O petróleo é nosso” e também formaram uma oposição à direita no antigo Clube Militar. Seus encontros reuniam desde o antigo tenente Juarez Távora, convertido ao conservadorismo puro e duro, o eterno candidato presidencial da UDN Eduardo Gomes, até oficiais mais jovens, que no futuro tiveram destacada atuação no porão da ditadura, que torturava e executava prisioneiros.

Com destaque maior ou menor, eles conduziram os principais movimentos anti-democráticos que marcaram a história do país nas últimas décadas. Estavam na conspiração que levou à queda de Getúlio em 1954. Atuaram do esforço para impedir a posse de Juscelino em 1955 e deram apoio as diversas insurreições militares ocorridas durante seu mandato. Estavam por trás da tentativa de impedir a posse de Goulart, em 1962, e tiveram atuação ativa no golpe de 1964.

Mesmo Castelo Branco, o primeiro general-presidente da ditadura de 64, que costuma ser descrito como um golpista relutante na maioria dos relatos, teve uma presença muito mais ativa nesses movimentos do que se costuma admitir. Na biografia “Castello”, um ótimo aperitivo para sua trilogia “Getúlio”, o historiador Lira Neto mostra que Castello Branco foi um oficial simpático às ideias integralistas – o fascismo brasileiro – já na juventude, na década de 1930. Homem de confiança de Vernon Walters, um dos principais oficiais de informação do Exército dos EUA por longas décadas, Castello Branco um papel importante já nos bastidores onde se conspirava contra Getúlio. Sua assinatura aparece em sétimo lugar no célebre Manifesto de Generais que colocou um presidente eleito democraticamente contra a parede, exigindo a renúncia – o ato seguinte, como se sabe, foi o tiro no peito.

Pedro Parente decidiu partir para o ataque num momento em que o governo que o nomeou dá sinais de fraqueza e crescente falta de legitimidade.

Um dos mais influentes colunistas da VEJA, cuja postura em relação ao golpe dispensa comentários, o jornalista Roberto Pompeu de Toledo, é o mais novo crítico do impeachment. Na coluna mais recente, Pompeu condena a denúncia que levou a saída da presidente. Escreve: "Custa aceitar que é justo e proporcional destituir um presidente por três decretos e uma operação com o Banco do Brasil."  Mais adiante, depois de reconhecer que "Dilma não tinha como continuar", Pompeu sublinha: "seu processo nos lega uma mancha. Eis o paradoxo que pelos anos vindouros assombrará esta página da história do Brasil."

Paulo Moreira Leite. O jornalista e escritor Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília

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