segunda-feira, 5 de março de 2018

Nº 23.549 - "Globo vai para o tudo ou nada e culpa o PT pela crise que ela ajudou a provocar. Por Joaquim de Carvalho"

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05/023/2018


Globo vai para o tudo ou nada e culpa o PT pela crise que ela ajudou a provocar. Por Joaquim de Carvalho


Do Diário do Centro do Mundo -  5 de março de 2018

A jovem que perdeu tudo com a crise

Por Joaquim de Carvalho

Resultado de imagem para joaquim de carvalho jornalistaA Globo publicou no Fantástico deste domingo uma  reportagem de 14 minutos para mostrar os brasileiros que mais sofreram com a crise econômica que se abateu sobre o país desde 2104.

Até aí, nenhuma novidade.

Mas, à medida que a reportagem avança, percebe-se que não é exatamente um trabalho jornalístico. É propaganda. Propaganda contra Lula e o PT.

A reportagem é estranha do começo ao fim.

Para começar, é uma reportagem sem repórter, isto é, não é mostrado um jornalista em campo para apresentar os entrevistados e conduzir as informações. Ela foi feita por dois produtores, e a narração é dos apresentadores do Fantástico, Tadeu Schimidt e Poliana Abritta.

Este é o modelo clássico que revela o dedo do padrão e preserva a imagem dos repórteres.

Com um minuto, diz a que veio. Aparece Sérgio Firpo, professor de Economia do Insper (a escola do investidor Jorge Paulo Lemann), que dá a primeira cacetada:

— Depois de uma série de políticas desastrosas de 2010 a 2104, o Brasil passou a viver uma recessão muito forte. Foi uma das piores crise, senão a pior crise que o País já experimentou.

A apresentadora Poliana Abritta toma a boca do professor emprestada para dizer o que a Globo quer:

— As políticas que, segundo o economista levaram o País à recessão foram no último ano do governo Lula e no primeiro governo Dilma Rousseff, ambos do PT, que culminaram no forte abalo econômico de 2014 a 2016.

Fantástico!

Mas tem mais:

A reportagem mostra uma jovem que, em setembro de 2014, vivia seu melhor:

—Eu tinha tudo. Estava numa vida boa e do nada eu me vi no meio… de noite, debaixo do sereno e numa praça…

Ela era vendedora de uma loja em shopping, onde começou a namorar o segurança. Juntos, ganhavam 3 mil reais.

A reportagem mostra os dois tomando cerveja com amigos, em shows e ela, em aula de dança.

— Durou pouco — diz Poliana. Da vida de classe média à pobreza, foram apenas dois anos.

A jovem informa:

— Aí eu fui mandada embora e ele foi mandado embora também.

Os dois hoje vivem de revirar lixo — e a reportagem mostra — para procurar latinha.

Tadeu Schimidt narra, com base na língua da professora da UFRJ:

— A professora Lena Lavinas diz que quem mais se prejudicou foi quem mais se beneficiou com o crescimento rápido da economia, ocorrido entre 2004 e 2013.

Isso é fato. Mas o texto lido pelo apresentador trata de reforçar o que pensam os donos. Foi “nos mesmos governos do PT que depois provocariam a crise que o País atravessa”.

Fantástico outra vez!

Diz a professora:

— As pessoas que primeiro perderam o emprego foram aquelas que, primeiramente, mais se beneficiaram durante o período de crescimento recente que tivemos. Foi um crescimento de empregos de má qualidade.




Os apresentadores do Fantástico colocados para revirar o lixo para encontrar algo contra o PT
Aos 11 minutos, Poliana continua:

— A professora da Federal do Rio adverte que o crescimento não gerou uma classe média maior e sólida.

A professora, Lena Lavinas, complementa:

— Nós não tínhamos uma classe média como quiseram fazer crer.

A reportagem mostra duas mulheres chorando: a ex-vendedora do shopping e outra, que conta:

— Foi aí que comecei a pedir esmola.

Embora com forte apelo sensacionalista, a reportagem apresenta fatos indiscutíveis, mas transforma a reportagem em propaganda quando não apresenta outros aspectos da crise:

Quem perdeu a eleição em 2014 inviabilizou o governo Dilma Rousseff, com a discussão no Congresso de uma pauta que paralisou investimentos.

Depois, emparedou a presidente reeleita com a ameaça do impeachment.

Quem não se lembra da pauta-bomba que Eduardo Cunha colocou sobre a mesa da Câmara dos Deputados?

Nessa crise, não se pode descartar também o ambiente criado pela Lava Jato, que transformou o Brasil numa plataforma defeituosa da Petrobras.

Nada disso prosperaria se a Globo não abrisse sua programação para divulgar, com estardalhaço, um lado da história, a dos que queriam tirar o PT do poder.

Fez um jornalismo de guerra, uma campanha para derrotar adversários.

Por fim, o governo Temer, com sua política recessiva e sem credibilidade para liderar uma mudança de expectativa — em 2008, a declaração de Lula de que a crise era uma “marolinha” foi uma injeção de ânimo

O governo Dilma Rousseff tem, com certeza, sua parcela de responsabilidade na crise, ao capitular diante dos algozes e aceitar o argumento de que a corrupção era o grande mal a ser combatido.

No Brasil, a desigualdade social é a praga. O mais decorre disso.

Joaquim Levy no Ministério da Fazenda não foi a escolha mais feliz, pelo que representou: o reconhecimento da fraqueza do governo de Dilma.

A manutenção de José Eduardo Martins Cardoso no Ministério da Justiça pode ter sido outro erro político, num momento em que era preciso fazer o enfrentamento.

São eventos que a história jugará.

Mas daí a responsabilizar o PT pela crise econômica que jogou os brasileiros mais fracos no abismo vai uma distância gigantesca.

O brasileiro tem na memória os anos de prosperidade nos governos de Lula e também no de Dilma, e é essa memória que explica, em grande parte, a liderança do ex-presidente nas pesquisas.

No Fantástico, a Globo não fez jornalismo. Fez propaganda. E vem mais por aí. Neste ano de eleição, está difícil para os golpistas tentar viabilizar um projeto e, principalmente, um candidato que tenha a preferência do eleitor.

A Globo vai tentar jogar toda a culpa da crise no PT. E apoiar qualquer um que tenha chance de derrotar o PT.

Só que a emissora está subestimando o brasileiro. Em geral, ele sabe com quem pode contar, e não é com a Globo.

Os interesses da Globo são vários, e não é o do Brasil.


A baixaria só está começando.

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