18/01/2017
Que país é este: Geddel solto e Boulos vai preso
Brasil 247 -18 de Janeiro de 2017
TEREZA CRUVINEL
A prisão do líder do MTST, Guilherme Boulos, que passou dez horas detido nesta terça-feira, acusado de incitação à violência quando tentava mediar um conflito entre posseiros e policiais, foi uma inflexão na marcha autoritária em curso no país. A polícia que o prendeu é estadual mas o clima de estado policial é nacional e foi instaurado pelo golpe. A partir da derrubada de uma presidente eleita, espalhou-se pelo corpo social a percepção de que as fronteiras da legalidade e das garantias constitucionais estão liberadas. Já o ex-ministro Geddel Vieira Lima, apesar de provas e evidências acumuladas de envolvimento em delitos, não foi preso, embora muitos outros, por muito menos, tenho sido levados para o xadrez de Curitiba.
Contra Boulos, a polícia do governador Geraldo Alckmin chegou a invocar canhestramente a aplicação da teoria do domínio do fato, a mesma que, com interpretação distorcida, conforme reclamou seu próprio autor, permitiu a condenação de José Dirceu pelo STF. A teoria, em sua original acepção, responsabiliza quem ocupa o topo de uma hierarquia, em determinadas condições, pelos feitos dos subordinados. Serve ao direito penal, aos juízes, não à autoridade policial em fase investigativa. Mas quando tudo tornou-se permitido, quando vigora a exceção , todos os absurdos são admitidos. Contra Boulos alegou-se também que ele liderou protesto, no ano passado, em frente à residência paulista de Michel Temer. Acertar contas agora foi uma confirmação da natureza essencialmente política de sua prisão, conforme definição dele mesmo depois de liberado. É o revanchismo contra os movimentos sociais. Ninguém se iluda: na medida em que os conflitos sociais se agudizarem, na conjuntura de devastação econômica criada pela política Meirelles-Temer, a repressão vai se acentuar.
Já contra o ex-ministro Geddel, acumulam-se evidências. Ele perdeu a posição de homem forte do governo Temer quando seu então colega de ministério Marcelo Calero demonstrou que usava o cargo em defesa de interesses pessoais. Outras suspeitas surgiram envolvendo o prédio irregular cuja legalização ele tentou forçar junto ao Iphan. Nada lhe aconteceu, nem sequer um inquérito foi aberto sobre a traficância de influência. Agora, a operação Cui Bono? o aponta como agente superior de um esquema criminoso que cobrava propinas para liberar recursos na Caixa Econômica Federal. Um esquema composto ainda por Eduardo Cunha, Lucio Funaro, Derziê SantAnna e Fabio Cleto, todos homens “batizados” pelo núcleo cleptocrático do PMDB, ligado a Michel Temer. Mas Geddel não foi preso após a diligência em sua casa. Por muito menos, a Lava Jato prendeu outros “agentes públicos”.
TEREZA CRUVINEL. Colunista do 247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País.
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PITACO DO ContrapontoPIG
Geddel solto, Temer solto, Moreira Franco solto, Padilha solto, Serra solto, Aécio solto, FHC solto Alkmin solto...
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