quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Contraponto 12.190 - "Oposição no baile contra a Petrobrás"

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11/09/2013

Oposição no baile contra a Petrobrás

Mais grave do que os atos de espionagem do governo americano contra o Brasil é a reação da oposição diante a denúncia de que a NSA tentou desvendar segredos da Petrobrás

Da ISTOÉ idependente - 11/09/2013

Paulo Moreira Leite


Os adversários do governo querem adiar o leilão do pré-sal com o argumento de que será um evento de cartas marcadas.

Nem sabem o que foi apurado pelo serviço secreto norte-americano e já querem suspender a venda dos direitos de exploração de Libra, que contém reservas imensas e deve atrair uma montanha de investimentos para o país. 
Quanta pressa, não? 
Vamos combinar que, exagerando na indignação repentina, esse pessoal está exagerando na boa vontade – ou já seria submissão? – diante de potências estrangeiras. 
A missa nem começou e eles já querem se ajoelhar. Tentam ajudar a NSA a cumprir o único objetivo estratégico dos EUA em relação à Petrobrás ao longo da história: prejudicar a empresa em toda e qualquer oportunidade que se apresente. 
Será que este antiamericanismo súbito tem algo a ver com a possibilidade de se bloquear um evento que, conforme a maioria dos analistas, pode dar um fôlego novo e importante ao conjunto da economia? 
Quem sabe tenha impacto em 2014?
Alguma dúvida? 
Não há informações precisas sobre os segredos quebrados pelos espiões. Mas nós sabemos muito bem qual é a finalidade de sua ação. Por caminhos sujos e obscuros, querem, mais uma vez, enfraquecer a maior empresa brasileira. 
Trata-se de um novo lance num movimento que nasceu na década de 1950, quando a Petrobrás foi criada. 
Mais conhecido aliado dos Estados Unidos na época, o queridinho dos conservadores Carlos Lacerda liderou a campanha que culminou no emparedamento e suicídio de Vargas. 
No Irã, na mesma época, um processo semelhante levou à derrubada de um governo eleito. 
Em vários países árabes, a ação americana ajudou a levantar e proteger ditaduras dóceis a seus encantos.
O que se tenta, há 60 anos, é encontrar caminhos e atalhos que possam diminuir a Petrobrás, reduzir suas receitas e inviabilizar seus investimentos. Tentou-se a privatização no governo FHC. O projeto foi abandonado pelo receio da reação popular. 
Petróleo é economia. E é política, também. Não se perdoa o esforço de uma empresa do Estado para articular uma política de energia autônoma, capaz de garantir que as reservas brasileiras sejam patrimônio do país, em vez de serem incorporadas às reservas estratégicas dos EUA. 
É sintomático que a ação dos espiões se volte contra a empresa. Não se poderia esperar outra coisa. Queriam que a NSA fosse espionar carrinhos que vendem suco na praia? 
Adversária editorial da Petrobrás, não é nem um pouco surpreendente que a TV Globo procure dar um destaque devido e também indevido à ação dos espiões na empresa. Seus repórteres conseguiram apurar que a NSA tentava espionar a Petrobrás. Não foi possível chegar ao que descobriram. E só. A empresa divulgou, ontem, nota em que nega qualquer desvio em seus sistemas de segurança. 
Vendo a reportagem do Fantástico, domingo, cheguei a me perguntar: será que eles vão dizer que há indícios que iriam justificar o adiamento do leilão? 
Não, a Globo não fez isso.
Pode ser que surjam fatos novos, capazes de justificar suspeitas maiores. 
Deverão ser examinados com cautela redobrada e muita prudência, em função dos interesses políticos envolvidos. Está na cara que deixar a Petrobrás fora do maior leilão de sua história e um dos maiores do mundo será um golpe formidável no futuro da empresa, em seu equilíbrio econômico e em sua perspectiva de mercado. 
Não se pode descartar até falsos dossiês para justificar um ambiente de incerteza e insegurança. Agentes do serviço secreto não precisam cumprir preceitos morais nem respeitar a verdade. O universo é outro. Seu jogo é duplo, triplo. A mentira faz parte essencial do negócio. Sempre trabalharam assim – antes mesmo da invenção do computador. 
Não há o menor indício de que os segredos do leilão tenham sido quebrados. Mas a oposição pegou a senha e já está querendo entrar no baile. 
Dá para entender. Mas também dá para lamentar.

Paulo Moreira Leite. Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o Outro General da Casa". 

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