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11/09/2013
José Dirceu: linchamento moral e o tempo é a história
Blog Palavra Livre - 11/09/2013
Por Davis Sena Filho
O
julgamento do "mensalão", na verdade, mentirão, está chegando ao fim.
De todos os envolvidos e apenados com a prisão, dois se destacam: José Dirceu e
José Genoíno. São políticos históricos, que participaram da guerrilha de
esquerda nos anos 1970, foram perseguidos, presos e processados pelos tribunais
brasileiros vergonhosamente subservientes aos generais da ditadura militar.
José
Genoíno é um homem de classe média e que mora em uma casa comum comprada com
sua renda de pessoa financeiramente modesta. Sofreu muito durante toda sua vida
política e partidária e até os dias atuais é alvo de uma mídia de mercado
impiedosa, de políticos direitistas porta-vozes de nossas "elites"
perversas e de passados escravocratas, bem como desassossegado por algumas
acusações que nunca foram comprovadas.
No
entanto, apesar de Genoíno ser perseguido e desrespeitado, sistematicamente,
como cidadão brasileiro, a pessoa e o político mais perseguido e odiado pela
direita que eu tive o desprazer de verificar no decorrer dos últimos oito anos
é sem sombra de dúvida o ex-ministro da Casa Civil e ex-deputado do PT, José
Dirceu. O ódio a ele consegue superar o ódio a Lula, que também é muito denso e
disseminado por toda a sociedade.
A
direita, as classes sociais ricas e de classe média simplesmente odeiam o
petista de passado revolucionário que nunca se deixou cooptar pelos donos e
meninos de recado do poder capitalista e por causa disto jamais foi perdoado. O
sentimento de classe é enraizado na grande maioria das pessoas e quando alguém
que pertence originalmente a uma classe privilegiada e se torna dela um
dissidente, o ódio de classe vai à tona e se insurge ferozmente contra aquele
que é considerado traidor.
Os
integrantes,
os representantes e as lideranças das classes dominantes se
comportam e se conduzem dessa maneira através dos séculos e em qualquer
país ou
nação. Primeiro, eles tentam cooptar a quem não reza pela cartilha dos
privilegiados e economicamente poderosos. Se não conseguem, rapidamente
tratam de se mobilizar para destruir a reputação de quem lhes desagrada.
Tentaram
atrair Getúlio Vargas e João Goulart. Quando perceberam que os dois presidentes
trabalhistas estavam dispostos realmente a efetivar seus projetos de País e
programas de Governo, o establishment passou a tratá-los de forma extremamente
desrespeitosa na high society, além de conspirar dentro de vários órgãos e
instituições do Governo e da iniciativa privada, a exemplo do Exército e das
federações empresariais urbanas e rurais.
A
imprensa de negócios privados entrou com tudo, e passou a tratar o Governo de
Getúlio de "mar de lama". Anos depois a mesma imprensa golpista
passou a chamar o Governo de Jango de "república comunista e
sindicalista", e que estaria prestes a dar um golpe. A direita combateu
também, e de forma feroz, o trabalhista Leonel Brizola e o comunista Luís
Carlos Prestes. E o golpe veio da direita. Golpe violento e criminoso e que
implantou uma ditadura na qual os empresários se locupletaram e os militares
aproveitaram parar ficar no poder por longos 21 anos.
Todos
esses políticos foram satanizados e pagaram caro por não serem cooptados. Eles
foram acusados de tudo o que é irregular e ilegal, bem como chamados de ladrões
e corruptos. As manchetes dos jornais e revistas, as chamadas das rádios e anos
depois das televisões faziam e até hoje fazem campanhas insidiosas contra
aqueles que o sistema midiático comercial e privado e dos donos dos meios de
produção consideram como inimigos.
O
mesmo acontece com o José Dirceu, político do campo da esquerda que sofre há
quase dez anos com uma campanha infamante, injuriosa e que tem por finalidade
desconstruir a imagem de um homem acusado por intermédio de "provas
tênues", conforme as palavras do ex-procurador da República, Roberto
Gurgel, no plenário do STF.
Agora,
as denúncias e as acusações ao Policarpo Jr., ex-diretor de Veja, ao senador
cassado, Demóstenes Torrres, e ao bicheiro Carlinhos Cachoeira nunca foram
relevantes para o Gurgel. O procurador sentou nas provas e contraprovas durante
quase três anos, o que permitiu que o triunvirato ficasse livre para fazer os
seus planos de conspiração contra governos, governantes e autoridades.
Além
disso, certos da impunidade, as chantagens e as ameaças se tornaram a tônica a
quem não quisesse ceder aos interesses de tal grupo, com o inegável apoio de
Veja, além da revista Época, que publicavam matérias manipuladas e distorcidas,
que davam eco a interesses até, então, inconfessos daqueles que transformaram o
jornalismo das grandes corporações midiáticas em um libelo de direita,
partidário e frontalmente hostil aos governos trabalhistas de Lula e Dilma
Rousseff.
A
verdade é que o julgamento político de José Dirceu e também de José Genoíno,
acontece muito mais por causa de questões ideológicas, históricas e de ódio de
classe social do que propriamente por causa do caixa dois do PT. José Dirceu é
um dos articuladores, se não for o principal articulador da ascensão de Lula ao
poder. O ódio das classes abastadas por Lula é imenso, afinal o ex-presidente
trabalhista tem todos os predicativos que as "elites" detestam:
operário, nordestino, migrante, sem um dedo e pobre.
Contudo,
a direita rastaquera e com ares de nobreza compreende esses fatores, apesar de
rejeitá-los por causa de incontáveis preconceitos e intolerâncias. Lula é Lula.
Veio de baixo e teve a ousadia de sentar na cadeira presidencial até então
somente destinada aos representantes da casa grande. Fato este que não ocorre
com o José Dirceu, advogado, branco, apessoado, culto, inteligente, de classe
média, estudado e, segundo seus amigos, leitor contumaz de livros.
Dirceu,
desde jovem, rompe com o establishment e vai viver no anonimato para não ser
preso ou morto. Pagou caro. O sistema o transformou em tudo o que representa
ser ruim. Sua imagem foi desconstruída; sua moral, degradada; e sua carreira
interrompida após 40 anos de lutas contra o arbítrio, a prepotência e a
arrogância dos que querem um Brasil para poucos privilegiados. O líder petista
foi transformado em um monstro.
Por
seu turno, todo mundo sabe que nada é melhor que o tempo para colocar as verdades
e as realidades em seus devidos lugares. A história é contada de forma fria,
por meio de pesquisas intermitentes e pontuais, o que, inegavelmente, não
acontece com os jornais e revistas do sistema midiático privado e hegemônico. O
sistema pertence ao empresariado e capitalista quer muito dinheiro, além de
concretizar seus interesses pessoais, políticos e econômicos.
José
Dirceu cometeu erros e tem defeitos como qualquer ser humano. Por sua vez, o
seu passado não vai ser apagado da memória de todos aqueles que conhecem a
fibra e a coragem do político singular. O seu linchamento público de quase uma
década é um processo draconiano e vil, pérfido e que se contrapõem ao estado
democrático de direito.
A
demonização de sua imagem tem propósitos obscurantistas, porque até hoje não se
sabe o porquê de uma pessoa sem ter a culpa realmente comprovada poderá acabar
na prisão. Todavia, o político socialista vai ser julgado pela história e não
pelos seus inimigos e adversários, muitos deles envolvidos em escândalos e malfeitos,
mas que nunca foram alvos da imprensa alienígena, de investigações imparciais
do Ministério Público e muito menos julgados pelo STF. A verdadeira história de
José Dirceu é o tempo que vai contá-la.
É isso aí.
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Vamos lá Zé Dirceu!... Parece que a luz divina está trazendo a razão de volta aos juízes do STF. Você e os demais companheiros vencerão e a nação como um todo celebrará a justiça de volta... FORÇA!...
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