06/01/2017
Parece que Temer quer o Brasil socialmente retrógrado, diz coluna do NYT
SEX, 06/01/2017 - 17:32ATUALIZADO EM 06/01/2017 - 17:33
"Deve ser motivo de preocupação que o senhor Temer possa realizar tantas reformas, considerando que a maioria delas vai contra a agenda da pessoa que - ao contrário dele - realmente ganhou a eleição presidencial mais recente"
Jornal GGN - "O fim do mundo já chegou para o Brasil", publicou colunista brasileira no New York Times, nesta quinta-feira (05). A referência é direta ao projeto de emenda que congela por 20 anos os gastos públicos, interferindo na saúde, educação e outros investimentos sociais.
"O governo justificou a medida com base no fato de que o Brasil enfrenta graves deficiências orçamentárias. Mas as pessoas não estão aderindo à ideia. Uma pesquisa realizada no mês passado descobriu que apenas 24% da população apoia a emenda. Os brasileiros saíram às ruas para expressar sua desaprovação. Mas estavam, como sempre, diante de gases lacrimogêneo e tropas policiais montadas. Alunos do ensino médio ocuparam até 1.000 escolas em protesto, muitos no estado do Paraná, no sul do país", escreveu Vanessa Barbara para o jornal norte-americano.
Por outro lado, apesar das desaprovações, alertou Vanessa, o governo de Michel Temer não recua de suas medidas.
"A emenda do 'fim do mundo' é apenas uma das muitas medidas neoliberais que estão sendo adotadas por Michel Temer, o presidente. Deve ser motivo de preocupação que o senhor Temer possa realizar tantas reformas, especialmente considerando que a maioria delas, incluindo o limite do orçamento, vai contra a agenda da pessoa que - ao contrário dele - realmente ganhou a eleição presidencial mais recente."
A jornalista lembra a motivação do impeachment de Dilma Rousseff, em agosto do ano passado, foi a alegação de que a ex-presidente manipulou o Orçamento da União. E que assim que assumir o posto, Temer anunciou a série de projetos neoliberais e não vai parar, "dizendo que está aproveitando sua impopularidade para colocar à mesa as medidas impopulares".
A colunista brasileira do NYT diz que apenas o teto dos gastos públicos "prejudicará os cidadãos mais pobres e vulneráveis do Brasil por décadas". E ressalta que a tese não é apenas dos partidos de esquerda do Brasil, mas também da ONU, mencionando o parecer recente do relator especial das Nações Unidas, Philip Alston, apontando que a PEC irá "bloquear de forma inadequada e rapidamente os gastos em saúde, educação e segurança social, colocando uma geração inteira sob risco de rebaixamento dos padrões de proteção e bem estar sociais".
"Alston acrescentou que a lei colocaria o Brasil em uma 'categoria socialmente retrógrada própria', o que parece exatamente onde o Sr. Temer e seus aliados querem que estejamos", continua a jornalista.
Além das severas críticas à PEC do teto, Vanessa também mencionou a Reforma da Previdência de Temer. "Há boas razões para o Brasil não ter aprovado leis como essa antes. Embora a expectativa de vida média no Brasil seja de 74, somos um dos países mais desiguais do mundo. Por exemplo, em 37 por cento dos bairros da cidade de São Paulo, as pessoas têm uma expectativa de vida inferior a 65 anos. É ainda mais curto para os pobres rurais", argumentou a brasileira aos norte-americanos.
Outras dos projetos de Michel Temer ainda nem podem ser justificados pela recuperação econômica, apontou a colunista. Mencionou a proposta de lei trabalhista que permite que os acordos entre empregadores e sindicatos prevaleçam sobre as próprias leis trabalhistas, além do aumento do limite de horas de trabalho e a redução da regulamentação dos trabalhadores temporários.
"A comunidade empresarial elogiou o plano. Os sindicatos estão enfurecidos", ressaltou. Por fim, Vanessa citou a otra prioridade da gestão Temer no Brasil, que são os projetos de terceirização.
Ao concluir, Vanessa Barbara diz que, se por um lado, a alta impopularidade de Michel Temer é visível entre a grande maioria da população brasileira, por outro, o novo governo recebe o apoio total da indústria e do empresariado. Por isso, corrigindo o título dado à publicação, destacou: "Para alguns brasileiros, pelo menos, o fim do mundo é o início de uma oportunidade de ouro."
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