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25/09/2016
Enfraquecido, Serra ameaça demitir todos os seus assessores
Pronunciamento de Temer na ONU revela conflito de posições em relação a ministro
Jornal GGN - Um balanço da viagem da comitiva de
Temer aos Estados Unidos revela enfraquecimento de José Serra. O atual
ministro das Relações Exteriores se hospedou, por conta própria, em um
hotel diferente da comitiva presidencial, não quis participar de uma
importante reunião global sobre refugiados, promovida pelas Nações
Unidas mas, não só isso, foi ignorado pelo discurso de Temer proferido
no dia 20, na Assembleia Geral da organização e que mostrou que o
presidente e o ministro tem posições conflitantes sobre a política
externa do País.
Mais recentemente, talvez para mostrar que tem as rédeas da pasta,
Serra ameaçou que irá demitir todos os assessores do Ministério, exceto
um.
Viagem de Michel Temer aos Estados Unidos revelou escanteamento do ministro das Relações Exteriores
por André Barrocal
O ministro das Relações Exteriores, José Serra, ameaçou demitir
todos os assessores de seu gabinete, exceto um, assim que voltou a
Brasília de uma viagem a Nova York, aonde fora acompanhar o presidente
Michel Temer. A conferir se as demissões se confirmarão nos próximos
dias, mas o rompante é compreensível. Serra regressou enfraquecido dos
Estados Unidos, país ao qual sonha atrelar o Brasil.
O chanceler foi ignorado na elaboração do discurso presidencial
proferido na terça-feira 20 na Assembleia Geral das Nações Unidas,
motivo principal da viagem da dupla. Viu Temer assumir posições
conflitantes com as suas. Ficou (por opção própria) em um hotel
diferente daquele usado pelo chefe e por ministros da comitiva.
Ausentou-se de uma histórica reunião global sobre refugiados.
Relegado ao papel de figurante, embora seja um conhecido aspirante à
cadeira hoje ocupada por Temer, não surpreende o tucano ter deixado o
peemedebista esperando por uma hora em um jantar oferecido pelo
presidente no domingo 18.
No pronunciamento perante a Organização das Nações Unidas (ONU),
Temer adotou um tom mais geopolítico do que comercial, ao contrário da
postura vista até aqui em seu ministro da área. E expôs posições que
soaram como puxões de orelha no subordinado.
“A integração latino-americana”, disse, é uma “prioridade
permanente” do Brasil, não importa que haja “em nossa região governos de
diferentes inclinações políticas”.
Em seus quatro meses no cargo, Serra tem sido um criador de casos
na América Latina. Por razões ideológicas, trabalha abertamente pela
derrubada de Nicolás Maduro do governo na Venezuela. Até conseguiu, com
um golpe jurídico, impedi-lo de assumir a presidência rotativa do
Mercosul.
Em sua cruzada contra Maduro, tentou “comprar” o voto do Uruguai no
Mercosul, razão para queixas públicas dos uruguaios. Não é à toa que
certos ministros fazem piada a portas fechadas: “quando será que Serra
convocará tropas para invadir algum vizinho?”.
Temer também defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU,
colegiado que dá a seus cinco membros poder de veto em decisões do
organismo. Na gestão do PT, o Brasil cobiçava uma vaga no Conselho via
reforma. Logo ao assumir, o chanceler tucano desdenhou do tema e
apequenou o País. Para ele, a reforma não é “moleza”, é “briga de gente
grande”.
Curiosidade: paralelamente à Assembleia Geral, houve uma reunião do
G4, grupo criado por inspiração brasileira na era petista a juntar mais
três países com ambição de entrar para o Conselho: Alemanha, Índia e
Japão. Após o encontro da quarta-feira 21, ocorrido por iniciativa da
Alemanha, seus chanceleres divulgaram uma nota a reafirmar o compromisso
com a reforma. Serra incluído.
Não é difícil entender por que o ministro foi um ator secundário na
viagem de Temer a Nova York. Serra não escuta diplomatas, não estuda
assuntos de sua área. Em um vídeo gravado às vésperas de ir aos EUA,
revelou desconhecimento sobre os BRICs. Precisou de ajuda do
entrevistador e de um assessor para citar as nações integrantes: Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul.
Cercou-se de assessores estranhos ao Itamaraty, inclusive um
policial militar, Hideo Augusto Dedini, processado pelo massacre de 111
presidiários em São Paulo em 1992. Ao mesmo tempo, não faz questão
alguma de entender a estrutura da chancelaria, nem de conversar por ali.
E olha que no Itamaraty não falta boa vontade com os poderosos do
pós-impeachment. Consta que um chefe de departamento abriu uma champanhe
em seu gabinete no dia em que Dilma Rousseff foi afastada
provisoriamente pelo Senado, em maio.
Mais afeito a sentar-se com diplomatas, Temer aos poucos tem
estabelecido canais diretos com o Itamaraty, um bypass no chanceler. Foi
assim que ele preparou o discurso da ONU.
Consolo do ministro: em um encontro com empresários e investidores
estrangeiros em Nova York, Temer disse que em “brevíssimo tempo” haverá
mudança na legislação petrolífera para permitir às multinacionais
explorar o pré-sal sem a Petrobras. Um projeto, fez questão de
ressaltar, de Serra.
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