Arpeggio - coluna política diária - 12/12/2016
Por Miguel do Rosário
O título da matéria da Folha chega a ser hilário. Marina Silva vem despencando em queda livre nas pesquisas desde março deste ano, depois de apoiar o golpe. Saiu de 21% em março, caiu para 19% em abril, escorregou para 17% em julho e fechou o ano em 15%.
Lula, por outro lado, vem disparando após o golpe: saiu de 15% em março, e foi crescendo a cada pesquisa, até chegar aos 25% de hoje, que o deixam isolado na liderança do primeiro turno.
Aécio Neves, apesar do forte recall de 2014 e de ser presidente do principal partido de oposição, o PSB, não pára de minguar nas pesquisas.
Pesquisa de intenção de voto a dois anos das eleições não vale exatamente para se prever o resultado eleitoral, e sim para medir a atmosfera política hoje.
Esse Datafolha, por exemplo, enterra a pesquisa farsesca do ultratucano Sensus, divulgada há uma semana, sobre a Lava Jato, que seria apoiada por mais de 90% da população. Ora, se isso fosse verdade, Lula não estaria liderando as pesquisas de maneira tão absoluta.
Tudo que é mais interessante na pesquisa é escondido na matéria da Folha.
É bizarra a tentativa do jornal de esconder números e tendências tão evidentes em pesquisa feita por instituto que lhe pertence. Mais uma razão para que os brasileiros se esforcem para criar institutos de pesquisa independentes. Não dá para confiar num instituto controlado por uma empresa tão histericamente conectada aos interesses de um dos lados da disputa política - e pior, que não assume essa tendência.
Sempre é bom lembrar que, na contramão do "ajuste fiscal" violentíssimo que o governo Temer vem promovendo, as verbas federais destinadas à Folha explodiram assim que o golpista assumiu.
Nem tudo é fácil para Lula. Sua rejeição ainda é muito alta: 44%. O que a Folha não diz, contudo, é que ela vem baixando rapidamente desde março, quando atingiu 57%.
O golpe, para se materializar, precisou satanizar Lula de maneira desesperada, porque o ex-presidente era a voz mais alta contra o crime que pretendiam perpetrar (e perpetraram) contra a nossa democracia.
Michel Temer, por outro lado, experimenta uma tendência contrária. Sua rejeição está crescendo vertiginosamente, e olha que a pesquisa ainda nem captou os efeitos da delação da Odebrecht...
O relatório completo da pesquisa Datafolha, que publicamos abaixo, traz ainda algumas informações extremamente curiosas.
Por exemplo, Lula, agora lidera entre os mais escolarizados e os de maior renda. Entre os entrevistados com curso superior, o ex-presidente agora tem 17%, contra 11% de Aécio Neves e 13% de Marina. Entre os brasileiros com renda superior a 10 salários, ele tem 14%, empatado com Marina e acima de Aécio.
Entre os mais pobres e menos escolarizados, a vantagem de Lula, naturalmente, é muito maior: entre os brasileiros que ganham até 2 salários, ele tem 30% das intenções de voto, o dobro do segundo colocado, Marina Silva, que tem 15%.
O que o Datafolha está mostrando, aparentemente, é uma tendência. Lula está crescendo na crise.
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Abaixo, a íntegra da pesquisa Datafolha:
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Por fim, eu gostaria de comentar outro número observado na pesquisa Datafolha. O PT voltou a crescer entre o público mais jovem, provavelmente em virtude da atração das lutas contra o golpe. O PSDB, por sua vez, que sempre foi fraco entre a juventude, está conseguindo perder o pouco de apoio que possuía, seguramente por causa de sua associação ao governo Temer.
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